Belgrano conscientiza torcedores sobre racismo em campanha antes de jogo contra brasileiro

Belgrano

Antes da partida do Belgrano da Argentina na Copa Sul-Americana contra o Internacional, realizada em casa na terça-feira, dia 2, o time preparou uma campanha antirracista. Esta iniciativa se deu devido à ocorrência frequente de casos de racismo por parte de argentinos nos últimos embates entre times da Argentina e do Brasil em competições da Conmebol. Vale mencionar que a Libertadores também começou nesta mesma terça-feira.

A estratégia de marketing do time argentino conta com a participação de um ator encenando Manuel Belgrano, um político e soldado que inspirou o nome da equipe. Belgrano teve um papel crucial no processo de independência da Argentina e também foi o responsável pela elaboração da bandeira nacional no século XIX. De acordo com a Biblioteca Nacional de Professores, que se dedica a estudos sobre educação e pedagogia no país, Belgrano lutou pela democratização do acesso à educação pública e defendeu a inclusão das mulheres no sistema educacional.

O post de Belgrano declara que não almeja a fama, mas sim a união entre os povos americanos. O texto também ressalta que na América do Sul todos são irmãos, reforçando a ideologia honrada pelo clube para solicitar que se combata o racismo antes do jogo com os brasileiros.

Essa ação não foi tomada de forma isolada. O grupo "Los Piratas Celestes de Alberdi", pertencente ao clube esportivo Belgrano, também se posicionou contra o racismo. O bairro de Alberdi não só é onde o clube está localizado, como também possui uma grande presença cultural dos povos nativos argentinos, reconhecido pelo Instituto Nacional de Assuntos Indígenas (INAI), semelhante à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) do Brasil, e abriga imigrantes da Bolívia e Peru.

"Nós, da equipe Piratas Celestes de Alberdi, estamos preparados para receber e acolher torcedores e equipes de diferentes culturas e países. Nosso objetivo é conscientizar e unir a comunidade pirata contra o racismo, a xenofobia e todas as formas de discriminação. Nosso time representa o sentimento popular e valoriza a diversidade com a presença dos povos originários, imigrantes, estudantes e trabalhadores em Alberdi. Baseados em nossa identidade e história, rejeitamos veementemente qualquer forma de preconceito".

Nas últimas disputas continentais, a questão do racismo tem causado tensões entre brasileiros e argentinos. Em outubro, durante a semifinal da Libertadores em que o Boca Juniors enfrentou o Palmeiras, a área próxima ao Allianz Parque amanheceu com diversos recados em resposta ao racismo sofrido pelos torcedores brasileiros no confronto realizado em Buenos Aires. A frase "fogo nos racistas" foi escrita no asfalto, na entrada da área dos visitantes do estádio, situada na Rua Padre Antonio Thomaz.

Há dois meses atrás, um fã e um oficial do San Lorenzo foram detidos por cometer atos de racismo durante a partida contra o São Paulo pela Sul-Americana. O oficial foi flagrado exibindo uma imagem de macaco em seu celular. O fã fez gestos de um macaco e jogou uma banana em direção a um jovem torcedor negro do São Paulo. No mesmo mês, torcedores do Corinthians foram vítimas de racismo em Rosário, Argentina, enquanto jogavam contra o Newell’s Old Boys, também pela Sul-Americana. Na arquibancada da casa, gritos de “mono” (macaco em espanhol) foram ouvidos. Anteriormente, o time argentino já havia recebido uma multa de US$ 100.000 (aproximadamente R$ 490.000) da Conmebol por insultos raciais contra torcedores do Santos durante a fase de grupos.

Durante a fase de grupos da Libertadores, em que conquistou o título, o Fluminense viajou para Buenos Aires para enfrentar o River Plate, e foi alvo de novas demonstrações de imitações de macacos. Na mesma rodada, o ônibus do Internacional foi apedrejado em Montevidéu, onde o clube jogou contra o Nacional, sendo igualmente alvo de insultos racistas.

Em 2022, os fãs do Ceará enfrentaram discriminação quando viajaram para Avellaneda, um bairro em Buenos Aires, para jogar contra o Independiente na Copa Sul-Americana. Essa situação ocorreu um mês após um torcedor do Boca Juniors ter sido detido em flagrante por racismo no estádio Neo Química Arena. Ele pagou R$ 3 mil de fiança e foi liberado.

O texto do artigo 15 do Código Disciplinar da Conmebol se refere aos casos de discriminação cometidos por jogadores e outros membros da equipe. Se alguém for pego praticando esse tipo de atitude, pode acabar suspenso por dez partidas ou um período mínimo de quatro meses. Em comparação com o antigo código de 2022, as penas são agora o dobro. Este artigo também aborda atitudes discriminatórias de torcedores. Se um clube for considerado culpado por esse comportamento, a multa mínima é de US$ 100.000 (R$ 504,97), três vezes mais do que o valor estipulado na antiga regra.

Nesta terça-feira, às 19h, Belgrano e Inter se enfrentarão no Estádio Mario Alberto Kempes. As equipes fazem parte do Grupo C da Copa Sul-Americana, que conta com outras duas equipes: Delfín-EQU e Real Tomayapo-BOL. Confira todos os grupos da competição aqui.

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