Como a Colômbia planeja agregar valor e gerar mais receita com exportação de café

Colombia

Bloomberg Línea (Bogotá) — A Colômbia, que se destaca como o principal produtor global de café suave, pretende reformular sua abordagem de exportação do seu produto mais icônico, buscando aumentar a receita em dólares através de um produto com maior valor agregado e que esteja pronto para o consumidor.

A nação sul-americana irá avançar em sua cadeia de produção, visando diminuir as exportações de café cru e sem processamento, que serve como base para a fabricação de produtos em outros mercados, e passará a comercializar grãos já torrados e prontos para o uso.

A estratégia possibilitaria que os produtores de café elevassem sua receita com um produto finalizado. Enquanto uma libra de café cru (aproximadamente 453 gramas) custa quase US$ 3 no mercado global, um pacote de 340 gramas de café torrado é comercializado ao consumidor por valores que variam entre US$ 13 e US$ 15.

Em setembro, a Federação Nacional de Cafeicultores (FNC) da Colômbia revelou um novo sistema logístico para exportar café torrado para os Estados Unidos em menos de 72 horas. Esse modelo está sendo colocado em prática pela Almacafé, a empresa responsável pelo armazenamento, debulhamento, torrefação e exportação dos grãos colombianos.

Conforme a Federação, esse modelo de comércio eletrônico transnacional possibilitará a expansão das vendas de café torrado no local de origem. Esse serviço será lançado primeiramente nos Estados Unidos e, no primeiro semestre de 2025, na Europa, na Ásia e em outras nações.

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Outras grandes corporações têm colhido vantagens com esse modelo e planejam enviar café pronto para consumo a mercados de alta renda, como os Estados Unidos.

No Brasil, personalidades como a atriz colombiana Sofia Vergara entraram no setor cafeeiro com sua marca Dios Mio Coffee, que é disponibilizada aos consumidores norte-americanos por meio da plataforma de e-commerce transfronteiriço BloomsPal.

Este café é originário de regiões colombianas como Nariño, Santander, Eje Cafetero, Huila e Sierra Nevada, sendo predominantemente destinado à exportação para os Estados Unidos.

A companhia de dropshipping agrícola BloomsPal une varejistas e marcas do setor agrícola nos Estados Unidos a processos de produção, embalagem e logística na Colômbia. Essa parceria possibilita que os varejistas desenvolvam suas próprias marcas de alimentos e bebidas ou comercializem produtos colombianos no território americano, sem a necessidade de gerir estoques.

Conforme esse sistema, a empresa distribui café colombiano em porções reduzidas, permitindo que os consumidores nos Estados Unidos o recebam em um prazo de 48 a 72 horas, pronto para ser apreciado.

A Colômbia está percebendo que o valor agregado na agricultura deve ser gerado internamente e que os produtos acabados devem ser exportados. Essa representa uma transformação significativa na maneira como realizamos nossas exportações. Exportar matérias-primas é uma prática que temos adotado ao longo de nossa história, enquanto exportar produtos finais é uma abordagem completamente diferente.

Quando uma marca realiza vendas através de plataformas como Amazon, Walmart ou outros serviços de e-commerce, ela recebe o pedido de forma imediata. Independentemente de o item estar disponível em estoque ou ser produzido sob demanda, ele é acondicionado e despachado diretamente ao consumidor final nos Estados Unidos. As marcas não precisam se preocupar com a gestão do inventário, já que a empresa se encarrega de toda a cadeia de produção e logística.

É como se estivéssemos realmente nos Estados Unidos, mas na verdade estamos na Colômbia (...). Estamos reformulando as cadeias de suprimentos para unir o agricultor à produção de um produto ou, pelo menos, transformá-lo em um item final pronto para o consumo”, afirmou o CEO da BloomsPal, Danilo Miranda, à Bloomberg Línea.

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“As empresas nos países-alvo estão começando a imitar o que está ocorrendo na produção com o dropshipping, porém no setor agrícola”, afirmou ele.

No modelo vigente de exportação de café verde, conforme os dados apresentados pela BloomsPal, apenas 10% do valor do produto final permanece na Colômbia. Atualmente, acredita-se que apenas 5% das exportações nacionais sejam de café já torrado e pronto para o consumidor.

A tiragem dos voos de carga mais relevantes da América Latina, situada entre Bogotá e Miami, permite que o café produzido e processado na Colômbia seja transportado por essa rota. Isso assegura uma entrega rápida, com café fresco pronto para o uso, além de custos reduzidos devido à diminuição de intermediários.

"Na prática, oferecemos aos produtores agrícolas mais de 100% do preço de mercado, integrando esses produtores em um produto final e eliminando diversos intermediários na cadeia de suprimentos no país de destino. Isso nos permite proporcionar uma distribuição muito mais equitativa da receita para os agricultores", explicou Miranda.

Na sua visão, um dos grandes obstáculos do atual setor de café é a separação entre o agricultor e o consumidor final, causada pela intermediação, e também a distância que existe entre o agricultor e os comerciantes.

A divisão provoca dificuldades logísticas, sobretudo no transporte das matérias-primas para o país final. Para enfrentar essa questão, a meta é minimizar essas falhas e concentrar todo o processo através da adoção de tecnologia, o que otimiza a logística e aprimora a eficiência do sistema.

A Colômbia enfrenta desafios na logística de última milha em razão de questões tecnológicas: “de forma paradoxal, em muitas ocasiões é mais simples enviar um produto da Colômbia para o estado americano da Dakota do Norte do que retirar um lote de café em plena região de Nariño”.

Embora o café seja o seu cultivo mais representativo, a Colômbia envia uma porção significativa de sua produção para o exterior e, ao mesmo tempo, importa tanto grãos quanto produtos finalizados para satisfazer a demanda interna, que é estimada em cerca de 2 milhões de sacas anualmente.

O diretor executivo da BloomsPal esclarece que, na Colômbia, o café robusta é importado, fundamentalmente, por duas razões: para diminuir os custos ou para atender à demanda por um sabor mais intenso e um maior nível de cafeína.

O café robusta possui um gosto mais pronunciado e amargo, além de conter uma quantidade mais elevada de cafeína, sendo a base para a fabricação de diversos produtos.

"Frequentemente, essa decisão é tomada para cortar despesas, mas em outras situações, é devido à necessidade de um perfil específico relacionado à variedade robusta. O que ocorre, na verdade, é que, para se obter o produto final na Colômbia, este é importado. Na minha visão, é fundamental assegurar que a Colômbia tenha capacidade para produzir robusta; na verdade, não vejo absolutamente nada de errado nisso", declara Danilo Miranda.

Em termos diferentes, ele afirma que o fundamental é que a produção industrial do café se mantenha dentro do país, de modo que "uma quantidade significativamente maior possa ser repassada aos agricultores de café", permitindo que a Colômbia se torne um exportador de produtos acabados, em vez de apenas vender matérias-primas, comentou o executivo.

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Atualmente, a Colômbia ainda exporta café em sua forma mais simples, enquanto os países que consomem o produto adicionam valor a ele, resultando na maior parte dos lucros sendo deixada fora do país: “Nas nações consumidoras, as empresas acrescentam valor, e é nesse ponto que o dinheiro permanece. Aqui, recebemos apenas uma fração do valor, incluindo o reconhecimento da marca”.

Inspirando-se no modelo da China e de nações desenvolvidas que trazem matérias-primas de fora e, em seguida, comercializam produtos finais, a Colômbia deve focar em gerar valor internamente para fortalecer sua competitividade no cenário global, afirmou.

Em 2023, a Colômbia alcançou uma produção de 11,3 milhões de sacas de café e finalizou o ano com exportações totalizando 10,9 milhões de sacas. Somente 400.000 sacas foram direcionadas ao mercado interno, indicando que, para suprir a necessidade local de 2,2 milhões de sacas, foi preciso importar.

Entretanto, os dados fornecidos pela Federação Nacional de Cafeicultores (FNC) indicam que as importações de café diminuíram em 45% ao longo de um ano: “notamos uma queda significativa nas importações de café, que no último ano móvel totalizaram 1,33 milhão de sacas”, afirmou Germán Bahamón, gerente da FNC, em entrevista à Bloomberg Línea em junho.

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