Copom interrompe cortes e mantém juros básicos em 10,5% ao ano

20 Junho 2024
Selic

O recente aumento do dólar e a crescente instabilidade econômica levaram o Banco Central (BC) a suspender a redução da taxa de juros que havia começado há quase um ano. Por consenso, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter a taxa Selic - a base da economia - em 10,5% ao ano. Tal medida já era aguardada pelos especialistas financeiros.

Selic - Figure 1
Foto Agência Brasil

A manutenção foi aplicada após o Copom realizar sete cortes consecutivos na Selic. Na última reunião, realizada em maio, a velocidade dos cortes diminuiu consideravelmente. Entre agosto do ano passado e março deste ano, o Copom realizou uma redução de 0,5 ponto percentual nos juros básicos em cada reunião. Já em maio, a taxa sofreu um corte de 0,25 ponto percentual.

Em contraste com a reunião anterior, que terminou com um placar dividido, a decisão desta vez foi tomada por unanimidade. Em um comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) explicou que optou por interromper a tendência de queda dos juros, devido ao cenário global incerto e às preocupações relacionadas ao aumento da inflação e das expectativas desequilibradas. Esses fatores exigem uma abordagem mais cautelosa.

No tocante ao quadro interno, a soma dos índices de desempenho econômico e do mercado de emprego continua apresentando uma performance superior à esperada. A inflação ampla ao consumidor tem registrado uma tendência de queda, entretanto as medidas de inflação subjacente foram superiores à meta estabelecida nas divulgações mais atualizadas”, explicitou a leitura.

De acordo com o Copom, o contexto atual é caracterizado por uma desaceleração da inflação que ocorre de forma mais vagarosa do que tinha sido previsto, além de um cenário internacional que se mostra desafiador e a falta de ancoragem das projeções de inflação por parte do mercado financeiro. O comunicado ressaltou que a atual situação exige uma condução da política monetária com calma e moderação.

A taxa de juros atingiu o seu nível mais baixo desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,75% a.a. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 12 ocasiões consecutivas entre março de 2021 e agosto de 2022, em resposta à inflação crescente de alimentos, energia e combustíveis. A taxa foi mantida em 13,75% a.a. por um ano entre agosto de 2022 e agosto de 2023, antes de começar a ser reduzida.

Antes do início do período de elevação, a taxa básica de juros da economia brasileira, conhecida como Selic, era de 2% anuais, atingindo o seu nível mais baixo desde o início da série histórica em 1986. Essa queda foi motivada pelo baixo desempenho da economia devido à pandemia da Covid-19, e o Banco Central optou por reduzir os juros como forma de incentivar a produção e o consumo. Desse modo, a Selic ficou na sua mínima histórica entre agosto de 2020 e março de 2021.

A taxa Selic é a principal ferramenta utilizada pelo Banco Central com o intuito de controlar a inflação oficial, medida através do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, esse índice - considerado como a referência oficial da inflação - apresentou um aumento de 0,46%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É válido ressaltar que esta elevação foi impulsionada pela alta dos preços dos alimentos, decorrente das enchentes ocorridas no estado do Rio Grande do Sul.

Após a divulgação do índice, observa-se um aumento acumulado de 3,93% em um período de um ano, o que distancia cada vez mais o indicador do objetivo central estabelecido para este ano. Para o ano de 2024, foi determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) uma meta de inflação equivalente a 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Portanto, o IPCA ficaria dentro do range de 1,5% a 4,5% no presente ano.

No final do mês de março, o Banco Central publicou o mais recente Relatório de Inflação, onde foi mantida a projeção de que o IPCA encerrará o ano de 2024 em 3,5%. Contudo, essa previsão havia sido anunciada antes do aumento do valor do dólar e das inundações no Rio Grande do Sul. A próxima divulgação do relatório será realizada no final de junho.

As perspectivas do mercado estão mais sombrias. Conforme o boletim Focus, um estudo semanal feito pelas instituições financeiras e divulgado pelo BC, a inflação oficial deverá encerrar o ano em 3,96%, abaixo do limite imposto pela meta. Há um mês, as avaliações do mercado eram de 3,8%.

Ao diminuir a taxa Selic, a economia é impulsionada, uma vez que juros mais amigáveis reduzem o custo do crédito, fomentando assim a produção e o consumo. Entretanto, as taxas mais baixas podem dificultar o controle inflacionário. No Relatório de Inflação divulgado recentemente, o Banco Central aumentou sua previsão de crescimento econômico para 2024, elevando-a para 1,9%.

De acordo com o último relatório do Focus, os especialistas em economia estão prevendo um aumento ligeiramente melhor no mercado. Espera-se que o Produto Interno Bruto cresça 2,08% até 2024.

A taxa primordial de juros é empregada no comércio de papéis do governo no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e é base para as demais tarifas de juros da economia. Elevando-a, o Banco Central retém o excesso de pedidos que afeta os preços, pois juros aumentados tornam o crédito mais caro e incentivam a economia.

Quando o Copom diminui a taxa de juros básica, fica mais fácil adquirir crédito e isso incentiva a produção e o consumo. No entanto, essa medida enfraquece o controle da inflação. Para reduzir a Selic, a autoridade monetária precisa ter certeza de que os preços estão estáveis e não há risco de aumento.

Artigo expandido às 18h52.

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