Entidades do setor produtivo criticam aumento da Selic
A escolha do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic (juros básicos da economia) em 1 ponto percentual, além de sinalizar mais duas elevações desse mesmo valor, gerou descontentamento entre o setor produtivo. Associações do comércio, da indústria e sindicatos, assim como políticos, argumentam que os juros elevados impactarão negativamente o emprego e a recuperação econômica.
Em comunicado, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão do Banco Central (BC) como “sem explicação” e “sem fundamento”. Segundo a instituição, o aumento da taxa não é justificável diante da redução da inflação em novembro e da divulgação do pacote de medidas para a diminuição de despesas obrigatórias.
"Prosseguir com o aumento da Selic, iniciado em setembro, já seria considerado um equívoco por parte do Banco Central. Aumentar ainda mais esse ritmo, como a autoridade monetária optou por fazer, não é justificável na situação econômica atual, que é caracterizada pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote de redução de gastos que foi efetivamente apresentado pelo governo federal", enfatizou a entidade.
Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o aumento na taxa Selic já era algo previsto e deverá contribuir para controlar a inflação, a qual ultrapassou o limite da meta estabelecida. Contudo, a associação acredita que essa ação prejudica tanto a produção quanto o consumo. “No contexto atual, elevar os juros desincentiva o investimento e dificulta o crescimento da capacidade produtiva, além de impactar diretamente o consumo e a demanda total, perpetuando os obstáculos estruturais ao desenvolvimento nacional”, ressaltou Felipe Queiroz, economista-chefe da entidade.
Apesar de que o aumento nas taxas de juros eleva o custo do crédito e limita o consumo, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) não se opôs a essa decisão. Segundo a entidade, a ação estava alinhada com o que o mercado financeiro antecipava e se justifica diante das incertezas da economia e da desestabilização das expectativas de inflação.
"A elevação da inflação, que continua acima da meta anual em um cenário de atividade econômica e mercado de trabalho ainda robustos, juntamente com expectativas inflacionárias completamente desalinhadas, somados ao aumento da incerteza tanto na área fiscal quanto no exterior, são elementos que ajudam a sustentar o câmbio em patamares altos e explicam a necessidade de uma política monetária mais restritiva", refletiu a ACSP em comunicado.
A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann, considera que o aumento da Selic é incompreensível em um país que precisa progredir. “A decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 12,25% é irresponsável, insensata e prejudicial para o Brasil. Não faz sentido e não será eficaz para conter a inflação, que não é causada pela demanda. Além disso, não contribui para melhorar as contas públicas, muito pelo contrário. Esse aumento de 1 ponto custará aproximadamente R$ 50 bilhões na dívida pública”, publicou a congressista na rede social X (anteriormente conhecida como Twitter).
Segundo Gleisi, o Banco Central desconsidera o empenho e sacrifício do governo em reduzir despesas, após a submissão de propostas fiscais ao Congresso. "Esse é o fim da trajetória prejudicial do bolsonarista Campos Neto à frente do Banco Central, que foi responsável pela criminosa sabotagem à economia do país nos dois primeiros anos do governo Lula. Ele estrangulou a economia e o crédito e não lidou com a especulação cambial, que deveria ter sido sua prioridade. Campos Neto já vai tarde. Espero que seu terrorismo fiscal também seja superado a partir de agora", acrescentou a deputada.
O aumento da Selic em 1 ponto percentual gerou muitas críticas por parte das centrais sindicais. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) vê essa decisão como um equívoco. A entidade afirma que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está encerrando seu mandato “acumulando prejuízos para o país”. De acordo com a central, a elevação das taxas de juros não é uma solução para o aumento nos preços dos alimentos, que está relacionado a questões climáticas.
“O setor financeiro está colocando suas fichas contra o Brasil. Consiste em um grupo de exploradores e detratores da nação. Os prejuízos decorrentes dessa política monetária de restrição econômica, imposta pelo mercado através do Banco Central, sob a administração de Roberto Campos Neto, e com maior intensidade durante o governo Lula, são irreversíveis para o progresso do país”, afirmou em comunicado a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
A Força Sindical avaliou que o incremento nas taxas de juros é um "tratamento inadequado e dispensável". A organização pediu maior atenção do governo em 2025, com a implementação de políticas sociais que possam combater a pobreza e impulsionar os investimentos.
Lamentavelmente, o Banco Central deixou passar uma excelente chance de impulsionar a geração de empregos, a produção e o consumo. O país deve focar em promover a produção, criar oportunidades de trabalho e melhorar a distribuição de renda para reverter a sua trajetória de crescimento econômico, destacou em comunicado o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
Em um comunicado, o Copom justificou o aumento superior ao esperado devido às incertezas internacionais e aos ruídos gerados pelo pacote fiscal do governo. O órgão anunciou que aumentará a taxa Selic em 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões, marcadas para janeiro e março, se os cenários se concretizarem. Os próximos encontros serão liderados pelo futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.