Preocupado com Câmbio e Fiscal, BC Eleva Selic a 11,25% a.a
Em uma decisão consensual, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central atendeu às previsões do mercado e informou um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, que passa a ser de 11,25% ao ano. A última vez que a instituição aumentou os juros nessa proporção foi em agosto de 2022. Com essa medida, a Selic retorna ao mesmo nível registrado em janeiro deste ano.
Sem se definir quanto à magnitude das modificações nas reuniões futuras, o Banco Central enfatizou que as próximas deliberações estarão orientadas pelo "forte compromisso de alinhar a inflação com a meta estabelecida".
Leonardo Costa, economista da ASA, destaca que houve uma deterioração nas previsões de inflação segundo o modelo do Banco Central: a nova previsão oficial é de 4,6% para 2024, 3,90% para 2025 e 3,6% para 2026.
De certo modo, a autarquia reiterou o panorama descrito em sua última comunicação. "O contexto continua a ser caracterizado pela resistência nas atividades, pressões no mercado de trabalho, um hiato positivo do produto, aumento nas expectativas de inflação e expectativas desalinhadas, o que requer uma abordagem monetária mais restritiva".
O Que Fugiu Do Controle?
Embora o anúncio reforce aspectos já mencionados anteriormente, o cenário econômico brasileiro se alterou desde a última reunião do Comitê, ocorrida em 18 de setembro, apresentando uma significativa deterioração nas previsões para a Selic, a taxa de câmbio e a inflação.
O mais recente relatório Focus, divulgado na segunda-feira (04), indica que a taxa Selic deve chegar a 11,75% até o final de 2024. Para o ano de 2025, a previsão é que a taxa de juros fique em torno de 11,50%. O mercado também espera que o dólar esteja cotado a R$ 5,50 e que o IPCA atinja 4,59% — valor superior ao limite superior da meta estabelecida pelo Copom, que é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais tanto para cima quanto para baixo.
A cotação do dólar também subiu de maneira significativa: mesmo com a queda nas taxas de juros nos Estados Unidos trazendo esperança de uma amenização, a moeda americana se valorizou 4,49% desde a última reunião do Copom. No seu pico, que aconteceu na última sexta-feira, atingindo R$ 5,86, a alta chegou a 8,14%. Todos esses acontecimentos foram cuidadosamente observados pelo Banco Central.
De acordo com o Comitê, observa-se uma assimetria altista em sua avaliação de riscos, com fatores que podem contribuir para a inflação. Os principais aspectos incluem a desancoragem das expectativas, que distancia o Copom da meta e exige uma elevação das taxas de juros, uma maior resiliência do setor de serviços (que é pouco afetado por uma política monetária restritiva) e fatores tanto internos quanto externos que mantêm a taxa de câmbio em níveis "persistentemente mais depreciados".
O ambiente internacional complicado, sem uma perspectiva definida sobre a forma como o Federal Reserve administrará as taxas de juros nos Estados Unidos, foi apontado como um fator desfavorável para os mercados emergentes. É importante ressaltar que o Fed anunciará amanhã sua decisão, sendo esta a primeira vez após informações contraditórias sobre o mercado de trabalho e a eleição de Donald Trump.
Embora o programa de governo de Trump desperte a inquietação de muitos por seu possível efeito inflacionário, as eleições nos Estados Unidos não foram mencionadas. Para o Banco Central, o que realmente importa é acompanhar as decisões de redução da taxa de juros das principais economias.
Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e parceiro da The Hill Capital, afirma que a postura do Banco Central foi neutra, de acordo com o que já havia sido observado antes. No entanto, o comunicado apresenta algumas novidades.
Desde a última reunião, a visão do mercado em relação ao risco fiscal do país se tornou um dos fatores mais preocupantes para a bolsa de valores, o dólar e as taxas de juros. O governo se comprometeu a apresentar um pacote de medidas para contenção de despesas após as eleições municipais, mas a demora e a ausência de informações claras geraram inquietação entre os investidores. Como consequência, a curva de juros começou a refletir uma Selic potencial superior a 13%, enquanto a cotação do dólar ficou próxima de R$ 5,90.
A avaliação negativa imposta pelo mercado financeiro foi mencionada como um fator que leva o Banco Central a adotar uma postura mais restritiva. Contudo, o grupo de diretores reiterou sua exigência para que o governo apresente um plano mais consistente para a gestão das finanças públicas.
“O entendimento dos agentes econômicos acerca da situação fiscal tem influenciado significativamente os preços dos ativos e as expectativas dos participantes do mercado, em particular o prêmio de risco e a cotação da moeda”, ressalta a nota. “O Comitê reitera que uma política fiscal confiável e dedicada à sustentabilidade da dívida, por meio da elaboração e implementação de medidas estruturais para o orçamento fiscal, favorecerá a estabilização das expectativas de inflação e a diminuição dos prêmios de risco dos ativos financeiros, impactando assim a política monetária.”
Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ao não fixar um valor específico e sugerir que a velocidade do ajuste vai depender da convergência da inflação, o Copom mantém em aberto a chance de uma nova elevação de 0,75 pontos percentuais.