O curioso bastidor de documentário sobre Fernanda Montenegro

Símbolo do teatro brasileiro, a renomada atriz Fernanda Montenegro, prestes a completar 95 anos, concordou em participar de um documentário a respeito de sua trajetória profissional. O cineasta Pedro Waddington, filho de Andrucha Waddington e casado com Fernanda Torres, conversou com a coluna GENTE, ao lado de Luísa Barbosa, produtora executiva da obra. Os dois compartilharam detalhes sobre a elaboração do documentário e a experiência de conviver com Fernanda.

No projeto, vocês acompanharam as filmagens de "Velhos Bandidos" e participaram das leituras de Simone de Beauvoir no Ibirapuera, em São Paulo. Como foi a experiência de trabalhar com Fernanda nos bastidores? PEDRO: Estar ao lado dela tem sido extremamente inspirador. É uma chance de ficar perto de alguém que segura uma câmera e observa tudo. LUÍSA: Pedro possui um olhar muito atento. Ele realmente registra no cinema o que ela faz; Fernanda é a protagonista do seu próprio documentário. Ela, sozinha, acaba narrando a sua própria história, é algo muito impactante. PEDRO: Não é um documentário repleto de perguntas; os temas surgem naturalmente, e essas são as pistas que indicam a direção a seguir, refletindo o que está passando pela cabeça dela. Muitos dos temas vistos acabam se repetindo, pois a vida de uma pessoa é assim.

São 95 anos de vida e 80 dedicados à carreira. Qual enfoque vocês escolheram? P: Continuamos em processo de filmagem. Nossos novos projetos serve como direcionamento. A vida ao longo desses 95 anos se desenrola. No set de filmagem, no palco, nas leituras. O que consigo afirmar de forma mais precisa é o que preferimos não explorar. Queremos evitar a abordagem da biografia de forma completa. L: E, naturalmente, ao narrarmos essa trajetória, os temas recorrentes da vida dela vão se destacando. A Fernanda do teatro, do cinema, mas sob a perspectiva de alguém que ainda está criando, refletindo e liderando tudo à sua maneira.

Fernanda desejou se envolver na proposta e entender o que está em andamento. P: Não apresentamos nada a ela, mas fizemos alguns acordos. Comentamos que não seria um documentário focado em sua vida pessoal, mas sim no processo de ser atriz. L: O que ela mais almejava exibir era nosso contato, mostrando-a em ação. Como criadora e atriz, além de seu papel na Academia Brasileira de Letras.

Existem grandes desafios nas gravações? P: Aqueles que trabalham com Fernanda enfrentam menos obstáculos do que o habitual. Se você formula uma pergunta, ela já apresenta cinco respostas. É possível ficar como uma mosquinha e não atrapalhar. Muitos documentários incluem entrevistas. Eu procurei me camuflar para não ser notar, esse é o propósito do documentário.

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Pedro, filho de Andrucha Waddington e Fernanda Torres, você já tinha uma relação próxima com Fernanda antes do documentário? Era algo mais na linha de avó? P: Na verdade, não. Sempre a admirei imensamente, mas sempre fui cauteloso ao me aproximar. Ela estava presente nos almoços familiares e dizia "oi", mas não havia muita interação. É curioso como nossa relação evoluiu; agora tenho uma aproximação maior, mas isso se deve mais ao nosso trabalho em comum, à razão pela qual estamos juntos. Não era uma relação típica de neto com avó, mas algo que surgiu por causa de um objetivo compartilhado. Essa foi, talvez, a primeira vez que realmente me aproximei da Fernanda, e hoje considero-a uma amiga, além do projeto do filme que temos em andamento.

O sobrenome teve influência nesse processo? P: A relação de parentesco foi um guia para que isso acontecesse. A ideia para o documentário surgiu a partir de um filme do meu pai, chamado Vitória. O fotógrafo desse filme, Lula Cerri, comentou: "Alguém precisa registrar os bastidores." Então, fui até lá com a intenção de produzir um documentário, mas sem que a Fernanda soubesse. Estava capturando os momentos de bastidores, como se fosse um making of. A partir daí, foi se formando o desejo de expandir o material. Sinto enorme gratidão por isso ter acontecido.

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