Na Suzano, a compra da International Paper criaria uma gigante. Mas o mercado não gostou - NeoFeed

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Suzano International Paper

No início deste ano, durante um evento, Walter Schalka, líder da Suzano, mencionou que sua empresa estava empenhada em expandir seu mercado internacional. Poucos meses depois, foi divulgado que João Alberto Fernandez de Abreu, anteriormente CEO da Rumo, assumiria o cargo de CEO da Suzano em julho, substituindo Schalka.

A fabricante brasileira de papel e polpa pode estar próxima de mudar sua liderança. No entanto, os planos internacionais planejados permanecem em andamento, de acordo com um relatório da agência Reuters divulgado em 6 de maio.

De acordo com informações de fontes com conhecimento das negociações citadas pela agência, a Suzano apresentou uma proposta verbal de cerca de US$ 15 bilhões para aquisição da International Paper ao Conselho de Administração da empresa dos Estados Unidos. A oferta, que foi feita em dinheiro, aponta para um valor de US$42 por ação.

Um gestor que possui ação na SUZB3 expressou sua preocupação em relação à possibilidade da Suzano oferecer um valor mais elevado do que o que foi noticiado pelo mercado. Ele também criticou a hesitação da empresa em divulgar informações relevantes sobre a negociação.

De acordo com a agência Reuters, existe uma tendência de rejeição à proposta da Suzano. Isso se deve, em parte, ao fato de a empresa brasileira estar colocando como condição para o acordo a suspensão da aquisição da britânica DS Smith, que foi anunciada em abril pela International Paper por US$ 7,2 bilhões.

Se as dificuldades forem resolvidas, o pacto teria validade após quatro anos da International Paper ter cedido suas atividades no país para a Klabin, por um valor de R$ 330 milhões. Este acordo não só representaria a estreia da Suzano nas áreas de embalagens e papelão corrugado, mas também consolidaria a sua posição como uma empresa de peso no segmento de papel, celulose e embalagens.

Existem determinados valores que permitem avaliar o possível desfecho da fusão dessas empresas. Se considerarmos os relatórios financeiros de 2023, a receita conjunta seria de cerca de US$27 bilhões, e o quantitativo de vendas combinadas atingiria 27,1 milhões de toneladas em embalagens.

Segundo informações da Levante Insider Corp, a nova empresa teria uma projeção de Ebitda entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões, com um EV/Ebitda de 6 vezes. Com base nos valores atuais, a soma do valor de mercado seria superior a US$ 26 bilhões.

Quanto à capacidade produtiva, o conglomerado contará com 34 unidades fabris, envolvendo celulose, papel e embalagens. Com a incorporação da International Paper, o conjunto ganhará expressivos 28 empreendimentos, além de 200 fábricas de caixas de papelão e 18 instalações de reciclagem.

Neste mapa, a International Paper opera em mais de 10 nações e presta serviços para mais de 21.000 clientes. Já a Suzano, no exterior, possui agentes em território chinês e está presente nos Estados Unidos, Suíça, Argentina e Áustria.

Em um relatório intitulado "algumas considerações extremamente iniciais" enviado aos seus clientes, os analistas do BTG manifestaram ceticismo e demonstraram inquietação quanto à possível compra.

"Ainda é prematuro afirmar se haverá sinergias, dada a limitada visibilidade, contudo esta ação tem como objetivo principal a internacionalização da empresa, tanto em relação a seus produtos quanto em sua expansão geográfica", pode-se ler em uma parte do texto.

Desconsiderando os dados numéricos, é possível observar que a resposta inicial do mercado em relação à uma eventual negociação causou reações diferentes. Na Bolsa de Valores (B3), os títulos da empresa Suzano finalizaram o dia em baixa de 12,27%. Por outro lado, os ativos da International Paper apresentaram aumento de 5,20% ao fim do pregão em Nova York.

Um possível ponto de interrogação sobre um acordo seria o efeito no endividamento da Suzano, que encerrou o ano de 2023 com um débito líquido de R$ 55,5 bilhões e uma alavancagem, medida pela relação débito líquido/Ebitda de 3 vezes, nível semelhante à taxa de 2,5 vezes da International Paper.

Um analista afirma que a Suzano é atualmente a maior companhia de produção de celulose em todo o mundo e salienta que essa posição de liderança será reforçada pela conclusão do Projeto Cerrado. Trata-se de uma nova fábrica de celulose, na qual o grupo tem concentrado seus esforços desde 2021, com previsão de entrada em operação em junho deste mesmo ano. O investimento total na empreitada ultrapassa os R$ 22 bilhões, e ela possibilitará um aumento de 25% na capacidade produtiva da empresa.

Segundo ele, o mercado aguardava que a empresa diminuísse sua alavancagem financeira e começasse a distribuir lucros aos acionistas. Isso evidencia uma mentalidade ultrapassada do grupo de aumentar sua dívida para expandir seus negócios, em um momento em que essa estratégia já não é mais necessária e em um setor que não é seu foco.

O especialista adiciona que a lucratividade da International Paper é inferior à da Suzano e que a transação aconteceria em um período em que as taxas de juros ainda estão elevadas. "Eles já fizeram isso em outras ocasiões e, de fato, têm um histórico de sucesso na implementação de projetos. Entretanto, a resposta do mercado é: mais uma vez?"

Conforme as estimativas da Levante, se a negociação for realizada, o endividamento líquido da Suzano alcançará a soma de R$ 140 bilhões e a taxa de alavancagem será aumentada para 4 vezes. Entretanto, há indivíduos que observam os dados de forma distinta e acreditam que o acordo seja plausível.

Um gerenciador que não possui mais uma posição na Suzano assevera ao NeoFeed que a empresa está interessada em adquirir uma companhia maior que ela, algo que já ocorreu anteriormente com a aquisição da Fibria.

Ele complementa: "O montante da dívida ultrapassará os US$ 30 bilhões (cerca de R$ 151 bilhões), o que resulta em uma alavancagem de 5,5 vezes. Considerando que se trata de um empreendimento global, não parece uma cifra muito extravagante."

A questão é que, caso ocorra um acordo, a Suzano estaria em um cenário onde o setor está sendo cenário de outras fusões e aquisições envolvendo valores bilionários. Além da International Paper adquirir a DS Smith, outro grande anúncio foi feito em setembro de 2023 relacionado a essa movimentação.

Na ocasião, Smurfit Kappa, empresa irlandesa, e West Rock, corporação americana, declararam a união de suas atividades. Como resultado disso, surgiu a principal companhia aberta de produção de papel para embalagens, avaliada em aproximadamente US$ 20 bilhões, faturando US$ 34 bilhões e com presença em mais de 40 nações.

Depois de afirmar sua posição de não comentar a respeito, a Suzano emitiu comunicado à CVM às 19h05.

A empresa sempre analisa oportunidades de mercado e investimentos que se alinhem com sua estratégia. No entanto, vale ressaltar que até agora não existe nenhum acordo formal ou vinculante por parte da Suzano, nem qualquer decisão tomada pelos seus órgãos de administração em relação à operação que foi divulgada pela mídia. A empresa ainda declara que antes de fornecer essas informações, foram realizadas as investigações internas adequadas e os administradores foram questionados sobre a notícia divulgada na mídia.

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