Ciência como aliada no combate à fome, defende novo livro da ABC

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As transformações climáticas e o aquecimento global têm impactado o planeta há vários anos e isso tem afetado diretamente a agricultura e a produção de alimentos. Em decorrência disso, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançará amanhã, quinta-feira (14/03), o livro intitulado "Segurança Alimentar e Nutricional: Contribuições da Ciência Brasileira para a Erradicação da Fome".

A publicação foi editada por Mariangela Hungria, uma pesquisadora pertencente à diretoria da ABC e encarregada do comitê de segurança alimentar. Esta leitura abrange os resultados obtidos por 41 escritores diferentes, vindos de 23 organismos de pesquisa. O intento principal deste projeto é esclarecer a atual situação da fome no Brasil e demonstrar como a ciência pode contribuir, através da agricultura, do poder público e de outras áreas, para combater a instabilidade alimentar.

Um dos principais fatos abordados no livro é a altíssima produção agrícola do Brasil. Ao longo das últimas cinco décadas, o país vem exibindo uma curva crescente no registro de safras recordes, chegando a ultrapassar a marca de 300 milhões de toneladas de grãos, legumes e oleaginosas, de acordo com informações divulgadas em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tudo isso, no entanto, tende a ser direcionado para o mercado de commodities destinado à exportação. Infelizmente, segundo dados do próprio IBGE, cerca de 30% de todo o estoque total de alimentos produzidos no Brasil acaba sendo desperdiçado.

No presente momento, o Brasil é reconhecido como o quarto maior fornecedor de alimentos do globo. Contudo, um estudo conduzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), em parceria com diversas organizações sociais do país e do exterior, coletou informações através de dois Inquéritos Nacionais sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (VIGISAN), realizados em 2020 e 2021-2022. Os dados apurados evidenciam a volta do alarmante problema de fome no território brasileiro em 2020, período em que mais de 50% da população do país apresentou sinais de insegurança alimentar e 19,1 milhões de indivíduos experimentaram a sensação de fome. Na pesquisa atual, realizada em 2021-2022, os resultados indicam a existência de 33,1 milhões de pessoas sem acesso à alimentação e 57,8% da população em uma ou outra forma de insegurança alimentar.

Mariangela Hungria destaca a necessidade de uma abordagem inovadora que envolva a participação de diferentes segmentos da sociedade, a fim de promover uma ciência cidadã. Isso é fundamental para ouvir a opinião de todas as partes interessadas e desenvolver estratégias eficazes para combater a fome.

O livro apresenta diversas considerações, dentre elas, a importância da colaboração entre distintas áreas de estudo para aprimorar a fabricação de alimentos, enaltecer a agricultura familiar e viabilizar vínculos entre governos, empresas e organizações sem fins lucrativos.

Outra questão discutida aponta que aumentar a produção é o primeiro passo para combater a fome. No entanto, há uma grande diferença entre os resultados alcançados pela ciência agrícola e a adoção no campo. Portanto, os pesquisadores argumentam que é crucial inovar na transferência de tecnologia. O texto destaca a importância de estimular a pesquisa científica nos níveis básicos, aplicados ou de desenvolvimento de novos produtos, para que o país possa se colocar na vanguarda das tecnologias emergentes e aplicá-las na agricultura.

No livro, é enfatizado o papel das mulheres na segurança alimentar, pois elas compõem em torno de 43% dos produtores na agricultura familiar, além de serem valorizadas no que se refere ao processamento, venda e cozimento de alimentos. Apesar disso, as mulheres enfrentam desafios para terem acesso à terra e se deparam com outras discrepâncias de gênero.

A luta contra a fome precisa ser uma prioridade constante. Acreditamos que este livro possa chamar a atenção da sociedade em geral e, especialmente, dos responsáveis por tomar decisões, para a importância urgente do assunto. Estas são as palavras da presidente da ABC, Helena Nader, no prefácio.

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