Quem é Linda Martell, citada em “Cowboy Carter“, novo álbum de Beyoncé? | CNN Brasil

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Beyonce

O tão aguardado álbum inédito de Beyoncé inclui uma canção intitulada em homenagem a uma mulher que, aparentemente, inspirou todo o projeto. "Ato II: Cowboy Carter" será lançado nesta sexta-feira (29).

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Foto CNN Brasil

Apesar de afirmar que este não é um álbum country, mas sim, um álbum de Beyoncé, a cantora deixou um toque do estilo nas faixas divulgadas anteriormente, como "Texas Hold 'Em" e "16 Carriages".

De acordo com a lista de músicas lançada na quarta-feira passada (27), o álbum será formado por 27 canções, incluindo "The Linda Martell Show".

Saiba mais sobre o ícone que influenciou a cultura dos Estados Unidos e serviu como inspiração para Beyoncé.

Pioneira Da Música Country, Homenageada Por Beyoncé Em Novo álbum

Conforme relatado pela própria Beyoncé, seu novo álbum surgiu a partir de uma vivência que ela teve há algum tempo, quando se sentiu rejeitada e foi muito evidente que lhe faziam pouco caso.

Martell consegue identificar esse sentimento.

Thelma Bynem nasceu na Carolina do Sul em 1941 e, nos anos 60, enfrentou uma série de obstáculos para se tornar bem-sucedida na indústria da música country, sendo ela uma mulher afrodescendente.

Martell, que cresceu na região segregada do Sul dos Estados Unidos, costumava cantar canções de soul e R&B. No entanto, quando decidiu explorar novos gêneros musicais, como o country, percebeu que teria de enfrentar tanto a discriminação racial quanto a relutância dos outros.

Ela relatou em uma entrevista à Rolling Stone em 2020 que, durante suas performances de canto, eles costumavam proferir insultos em seu direcionamento, utilizando apelidos desagradáveis que ela era capaz de identificar.

William "Duke Rayner", gerente de uma loja de móveis, ficou sabendo que Martell fazia covers de música country e decidiu apresentá-la a Shelby Singleton Jr., um profissional da indústria musical que tinha ideias inovadoras na época.

Singleton afirmava que o R&B e a música country são gêneros musicais extremamente semelhantes. "Graças ao empenho das pessoas, esses dois estilos têm conquistado cada vez mais ouvintes", ressaltava.

O grupo agiu com rapidez. Em poucos dias, Singleton e Martell finalizaram o álbum, incluindo uma versão de "Color Him Father", dos The Winston. A música conseguiu chegar ao 22º lugar das paradas de sucesso da música sertaneja.

Segundo Martell, em uma entrevista à Rolling Stone, a música country tem o poder de narrar uma história. O cantor afirmou que a escolha da música certa transmite uma emoção única e essa é a razão pela qual ele se sente satisfeito cantando nesse estilo. Martell ainda destacou que já produziu diversas canções country e todas elas o encantaram, pois contavam uma história.

Martell teve êxito com as canções "Tristeza em Excesso", "Antes do Próximo Choro Cair" e "Você Está Chorando, Garoto, Chorando". Foi a pioneira como mulher negra ao cantar nos grandes palcos da música country, como a icônica Grande Ole Opry, em 1969.

Enquanto Martell era aplaudida entusiasticamente na noite, o percurso para alcançar o sucesso na indústria musical country foi cheio de obstáculos.

Artista Abandona Gravadora E Reinventa Sua Carreira

Martell relatou que a artista suportou insultos enquanto se apresentava, porém, ela também enfrentou um dilema interno por colaborar com Singleton. Este fez questão de informar à cantora que seu trabalho seria lançado não pela gravadora SSS International, mas sim pela Plantation Records.

Martell e o produtor musical tiveram uma discussão depois que ela alegou que a opção escolhida seria discriminatória, o que Singleton refutou. Além disso, Martell abordou a preferência de Singleton em promover de modo mais fervoroso Jeannie C. Riley, responsável pela canção "Harper Valley P.T.A." em 1968.

Martell divulgou outras ocasiões em que foi vítima de racismo, quando um dos responsáveis pelo programa televisivo de música country "Hee Haw" tentou "aperfeiçoar" a sua pronúncia durante a realização de uma música no show.

Em 1970, ela se desfez do relacionamento com Singleton. A artista declarou que teve a sensação de que o empresário a desprezou dentro da indústria.

Embora sua tentativa de sucesso no cenário musical country não tenha sido bem-sucedida, ela perseverou e continuou a explorar seu talento, redirecionando seu foco para o R&B e soul nas décadas seguintes.

Marcando época Na História

A saga de Martell poderia ter desaparecido se não tivesse sido pelo apoio de sua família no meio musical e por sua família real.

Mickey Guyton, atualmente considerada a artista negra com maior sucesso na música country, relatou à Rolling Stone que teve conhecimento sobre Martell depois de fazer uma busca pela internet sobre outras mulheres afrodescendentes que atuam no mesmo gênero musical.

"Eu me senti terrivelmente desconfortável ao descobrir que eu não conhecia ela", declarou. "A situação que ela enfrentou, com pessoas constantemente questionando sua veracidade e infamando-a com palavras preconceituosas, me chocou muito."

"Pretendia renunciar à indústria devido à complexidade que envolve. Ademais, fui pejorativamente apelidada... é bastante semelhante, ainda que haja um lapso temporal diferente".

Marquia Thompson, neta de Martell, realizou um documentário denominado "Um Caso Grave de Blues Rural". Nele, é retratada a batalha enfrentada no cenário da música country no período entre 1969 e 1975.

Na entrevista concedida ao The Tennessean, Thompson afirmou que é importante garantir espaço no cenário da música country para as minorias, mulheres e artistas marginalizados. Ele destacou a coragem da sua avó, que desafiou a indústria musical ao seguir suas paixões, e afirmou que aqueles que desejam seguir o sonho de sua avó devem conhecer sua história e se inspirar nela.

Parece que Beyoncé está pronta para narrar essa história.

Este texto foi originalmente produzido em âmbito internacional.

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