Como Bolsonaro foi derrotado nas eleições, mas bolsonarismo ganhou força?

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Bolsonaro

Bolsonaro se posiciona firme para a disputa política de 2026, mesmo após ter sido derrotado na maioria dos municípios.

No segundo turno das eleições municipais, as candidaturas que contavam com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram derrotadas em localidades como Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e Belém (PA).

Entretanto, a extrema direita, de modo geral, progrediu, especialmente por meio das parcerias que estabeleceu com partidos vistos como centristas, observa Josué Medeiros, especialista em ciências políticas e responsável pelo Observatório Político e Eleitoral (Opel).

"Bolsonaro se apresenta com grande impulso no cenário político de 2026, mesmo tendo perdido em várias cidades", afirmou em uma entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (28).

"É incontestável que a extrema direita foi a grande vencedora das eleições em São Paulo, assim como em Porto Alegre. Vale ressaltar que, nessas duas localidades, essa ala política optou por unir forças com partidos de direita tradicionais, evitando lançar candidatos próprios", afirma o especialista em ciência política.

Uma conquista clara de Bolsonaro ocorreu em Cuiabá (MT), onde Abílio Brunini derrotou o petista Lúdio Cabral.

Em São Paulo, observou-se uma conquista da extrema direita, com a aliança entre Ricardo Nunes (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, conforme palavras de Josué de Medeiros, "mantiveram Bolsonaro em segundo plano durante a campanha".

"Se realmente o PL assumir a Secretaria de Educação que pertence ao Nunes, o que nos espera? Teremos, na principal capital do país, uma secretaria de educação promovendo uma batalha ideológica em defesa da extrema-direita."

Ao analisar o resultado das eleições, o partido de Bolsonaro obteve a vitória em 16 cidades entre os 103 municípios brasileiros que possuem mais de 200 mil eleitores, incluindo quatro capitais.

Veja a entrevista completa.

Como podemos avaliar os resultados das eleições?

Tenho uma notícia positiva e uma negativa. A notícia positiva é que o Bolsonaro foi superado na maioria das capitais onde concorreu neste segundo turno.

É fundamental observar Belo Horizonte, Fortaleza, João Pessoa e Belém do Pará como cidades onde Bolsonaro foi vencido, indicando um fortalecimento da democracia.

A má notícia, neste momento, é que o bolsonarismo se mostrou bastante robusto. Ele já tinha demonstrado sua força no primeiro turno, quando o PL se tornou o partido mais votado em todo o Brasil.

O Bolsonaro conseguiu que seus candidatos se destacassem nas pesquisas, alcançando 30% na maioria das cidades.

Agora, no segundo turno, ele conquistou a vitória em Cuiabá, enquanto seu parceiro obteve êxito em Porto Alegre e São Paulo. Assim, Bolsonaro entra com grande força na arena política de 2026, mesmo tendo sido superado em várias localidades.

No entanto, percebemos que o Bolsonaro esteve ausente nos debates.

Apesar da ausência de Bolsonaro — já que Nunes e Tarcísio o mantiveram afastado durante toda a eleição —, a abordagem do bolsonarismo obteve sucesso, assim como sua estratégia se mostrou eficaz.

Podemos nos referir a isso como extrema direita, não há nenhum problema quanto a isso, pois o Bolsonaro não será candidato à presidência. No entanto, o importante é que esse espectro político se sairá fortalecido com uma vitória em São Paulo.

Por sua vez, Ricardo Nunes, do MDB, um partido alinhado ao centro-direita... A administração municipal estará apoiando quem em 2026? O Lula, que representa uma candidatura da terceira via, ou um candidato que conta com o apoio do Tarcísio e do Bolsonaro? Aparentemente, será um candidato apoiado pelo Tarcísio e pelo Bolsonaro.

Se for mesmo o caso de que o PL assumirá a Secretaria de Educação do Nunes, o que nos espera? Teremos, na principal cidade do país, uma secretaria de educação promovendo uma luta ideológica em favor da extrema direita.

Não há como negar que a extrema direita foi a grande vencedora das eleições em São Paulo e Porto Alegre. Contudo, nas duas cidades, essa facção adotou uma estratégia de se unir a partidos da direita tradicional, optando por não lançar candidatos próprios.

E o que podemos afirmar sobre a esquerda?

A avaliação da esquerda deve ser realizada em relação às eleições municipais. A esquerda enfrentou grandes dificuldades, foi alvo de perseguições e cometeu muitos erros nas eleições de 2016.

Nas eleições de 2020, ocorreram avanços significativos. O candidato foi para o segundo turno contra Boulos em São Paulo, conquistou a vitória em Belém e também em Recife, mostrando assim uma evolução em comparação a anos anteriores.

Agora, em 2024, a situação melhorou em relação a 2020, já que venceu em Fortaleza, repetiu a vitória em Recife e firmou a liderança do Boulos em São Paulo.

Ao fazer uma comparação, há um resultado favorável, porém existem diversos desafios. Uma grande parcela do eleitorado ainda observa a esquerda com receio, e isso se tornou especialmente evidente em São Paulo.

O delito eleitoral cometido por Tarcísio está intimamente relacionado a isso, pois estimula o receio que uma parte da sociedade brasileira nutre em relação à esquerda e ao seu conjunto de ideias e valores. Enfrentar esse desafio de desmantelar esse medo é uma tarefa bastante complexa.

O Lula consegue desmanchar isso, ele já dissolve essa situação, mas os demais líderes ainda não conseguem.

O senhor ainda acredita que a sensação antissistema permanece intensa na política?

Certamente, ainda não superamos esse sentimento. A questão antissistema continua a ter grande relevância e, na minha perspectiva, a candidatura do Marçal reflete isso muito mais do que o empreendedorismo.

Ele também encarna a narrativa do empreendedorismo, mas o fator mais significativo em sua campanha foi uma postura antissistema, resultando em 28% dos votos. Além disso, a taxa de abstenção em todo o Brasil também segue essa tendência.

Portanto, trata-se de mais um desafio. A democracia não deve ser apenas uma instituição, correto? Não pode ser apenas um conjunto de normas. Ela precisa proporcionar uma melhor qualidade de vida para as pessoas. O governo Lula está avançando nisso gradualmente. A inflação teve uma leve melhora, a taxa de emprego aumentou consideravelmente, mas, de modo geral, as pessoas ainda não percebem essa evolução.

Na cidade, as pessoas ainda não percebem mudanças. A mobilidade é precária e os serviços de saúde pública são insatisfatórios na maior parte dos locais. Assim, enquanto a qualidade de vida não melhorar, o sentimento antissistema e a aversão à política permanecem bastante intensos.

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