Quatro anos da tragédia em Brumadinho: 270 mortes, três desaparecidos e nenhuma punição
Apesar de ter conhecimento dos problemas da barragem, a consultora Tüv Süd emitiu Declarações de Condição de Estabilidade que permitiram que a estrutura continuasse funcionando mesmo com fator de segurança abaixo do recomendado por padrões internacionais. A mineradora sabia da situação e apresentou os documentos às autoridades.
Brumadinho: Vale, Tüv Süd e 16 pessoas se tornam rés pelo desastre que deixou 270 mortos
Mais de 1,4 mil dias após o rompimento, a recomendação de não utilização da água bruta do Rio Paraopeba para qualquer fim, entre Brumadinho e Pompéu, permanece. A pesca de espécies nativas também segue proibida em toda a bacia.
Entenda a situação atual da tragédia em relação a:
Vista aérea da destruição causada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. — Foto: André Penner/AP
Responsabilização criminal pelo rompimento da barragem
Relembre o que aconteceu até aqui:
Lama de rejeitos e área verde, em Córrego do Feijão, após rompimento da barragem da Vale. — Foto: Douglas Magno
De acordo com a vice-presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem (Avabrum), Andressa Rocha, a impunidade é um dos principais temores de quem perdeu um ente querido na tragédia. O único filho da professora, Bruno Rocha, que trabalhava na Vale, foi um dos 270 mortos.
Bruno Rocha e a mãe Andresa — Foto: Reprodução/Facebook
Buscas e identificação de vítimas
A tragédia da Vale em Brumadinho deixou 270 pessoas mortas, incluindo duas mulheres grávidas. Depois de quatro anos, 267 vítimas foram encontradas e identificadas. Três continuam desaparecidas.
Mais de 1.400 dias após o rompimento da barragem, as buscas continuam. A estratégia atual é o uso de estações de busca, equipamentos que fazem uma espécie de "peneiramento" e separam o rejeito de minério de ferro de possíveis segmentos humanos.
Estações de buscas em Brumadinho — Foto: Major Marcos Vinícius/ Corpo de Bombeiros
Segmentos humanos passam por exame de DNA no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte. Segundo o major, passados quatro anos, esses fragmentos continuam a ser encontrados. Até o dia 10 de janeiro, 61,7% de todo o material da barragem tinha sido vistoriado – 6,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Atualmente, 20 bombeiros militares trabalham semanalmente nas buscas, que só vão terminar quando todas as 270 vítimas forem localizadas e identificadas.
Estação de busca em Brumadinho — Foto: Reprodução/TV Globo
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, atualmente, há 1.004 "casos catalogados" no IML de Belo Horizonte oriundos do local do rompimento. Desses, 968 estão finalizados, 113 foram considerados inconclusivos e 36 permanecem em análise.
Vítimas desaparecidas
Tiago Tadeu Mendes da Silva tinha 34 anos e deixou a mulher e dois filhos, um deles de apenas 8 meses. Ele trabalhava na mina de Sarzedo e foi transferido para Brumadinho cerca de 20 dias antes do rompimento da barragem.
Maria de Lurdes da Costa Bueno, de 59 anos, morava em São José do Rio Pardo (SP) e passava as férias com a família em uma pousada de Brumadinho a pedido do enteado, que tinha o sonho de conhecer o Inhotim. A pousada foi soterrada. Os dois enteados, a nora e o marido dela morreram.
Nathália de Oliveira Porto Araújo, de 25 anos, era estagiária na Vale. Deixou dois filhos e o marido.
Ainda restam três joias da tragédia em Brumadinho para serem encontradas — Foto: Reprodução/redes sociais
A vice-presidente da Avabrum, Andressa Rocha, disse que a entidade mantém tratativas com o governo do estado para que as buscas só terminem com a localização de todas as vítimas.
Acordo de reparação dos danos
Até o momento, cerca de R$ 23,6 bilhões foram desembolsados pela empresa, em valores corrigidos pela inflação, o equivalente a 58% do total.
Veja alguns projetos em andamento:
Segundo o governo de Minas, "todos os trabalhos contam com rigorosa fiscalização" do estado, das instituições de Justiça e de uma auditoria independente para que não haja "eventuais abusos nos projetos executados pela Vale, como sobrepreços ou descumprimento de prazos".
Um dos projetos previstos em acordo assinado ainda em 2019 com o Ministério Público era a construção de uma nova estação de captação de água no Rio Paraopeba e a entrega da obra em setembro de 2020, mas até hoje isso não aconteceu. Um aditivo ao acordo estabeleceu um novo prazo, quase três anos depois, para o início da operação assistida na vazão plena: fevereiro de 2023.
Vista aérea da ponte ferroviária destruída pela passagem da lama após o rompimento da barragem em Brumadinho, no domingo (27) — Foto: Mauro Pimentel/AFP
Em nota, a Vale afirmou que "mais de 13,5 mil pessoas já fecharam acordo de indenização em reparação aos danos causados pelo rompimento da barragem B1, em Brumadinho, e em função das evacuações em outros territórios".
A mineradora disse que, de janeiro de 2019 a dezembro de 2022, desembolsou um total de R$ 37,2 bilhões em indenizações individuais e ações de reparação.
Vídeos mais vistos no g1 Minas: