2ª temporada de Cidade Invisível expande o folclore brasileiro ...

22 Mar 2023

Em um mercado repleto de séries de fantasias como The Witcher, Stranger Things e tantas outras, Cidade Invisível foi lançada em 2021 pela Netflix, buscando preencher uma lacuna: tratar da riquíssima mitologia do folclore brasileiro. Com produção do experiente Carlos Saldanha (Rio e A Era do Gelo 2) e elenco formado por nomes como Marco Pigossi e Alessandra Negrini, a série logo angariou uma legião de fãs.

Elenco e criadores de Cidade Invisível falam sobre 2ª temporada

A renovação do seriado para um segundo ano não demorou a chegar, menos de um mês após ser disponibilizada no streaming vermelho, e o resultado está entre nós. A segunda temporada de Cidade Invisível está disponível com uma trama de 5 episódios ambientada na Amazônia, novas figuras do folclore brasileiro e temas potentes.

[Spoilers de Cidade Invisível a partir daqui] Novos rumos Alessandra Negrini em cena da segunda temporada de Cidade InvisívelAlessandra Negrini e Manu Dieguez na segunda temporada de Cidade Invisível (Netflix/Divulgação)

A trama da primeira temporada de Cidade Invisível era focada no policial ambiental do Rio de Janeiro Eric (Marco Pigossi), sua filha Luna (Manu Dieguez) e esposa Gabriela (Julia Konrad). Em um incidente para lá de esquisito, Gabriela morre e Eric inicia uma investigação para descobrir os motivos por trás desse fato.

Durante essa jornada, o protagonista descobre um pouco mais sobre as suas origens e conhece diversas figuras do folclore nacional pelo caminho, como a Cuca (Alessandra Negrini), Iara (Jessica Córes), Saci (Wesley Guimarães) e Curupira (Fábio Lago) – todos ótimos em seus papéis. A função de antagonista ficou com o maligno Corpo Seco (Eduardo Chagas), um ser que cometeu crimes graves e é obrigado a vagar pela Terra, assumindo outros corpos.

Quem é o Tutu, o que é o Corpo-Seco e outras questões de Cidade Invisível

No segundo ano de Cidade Invisível, situada em Belém, no Pará, Eric retorna dois anos após os eventos da primeira temporada e encontra Luna sob os cuidados de Cuca. Ele quer voltar para uma vida normal no Rio de Janeiro, porém, precisa resgatar a filha após ela se meter em novas enrascadas. Ao longo dessa trajetória, eles conhecem novas criaturas mitológicas como a Mula sem Cabeça (Simone Spoladore), Lobisomem (Tomás de França), Lazo (Mestre Sebá), Matinta Perera (Leticia Spiller), entre outros, além da lenda do lugar sagrado Marangatu.

Este local, definido como um ambiente repleto de riquezas, é protegido por indígenas que vivem ou tem origem na região da Amazônia, como a promotora Telma (Kay Sara) e a Pajé Jaciara (Ermelinda Yepario), e é alvo da cobiça da família Castro (Zahy Guajajara e Tatsu Carvalho). Os irmãos possuem um histórico de garimpo ilegal na região e querem explorar ainda mais os recursos naturais do ambiente cheio de ouro.

Novas criaturas do folclore  Leticia Spiller em cena da segunda temporada de Cidade InvisívelLeticia Spiller interpreta Matinta Pereira em Cidade Invisível (Netflix/Divulgação)

Feito este resumo, a segunda temporada de Cidade Invisível é marcada pela objetividade — algo previsível, dado que possui apenas cinco episódios. Dessa forma, o roteiro coordenado por Mirna Nogueira (Irmandade), foca logo no início dos episódios nas criaturas inéditas do folclore brasileiro, apresentando Bento, o Lobisomem, e Clarice, a Mula sem Cabeça, mostrando a origem de cada um deles.

O enredo parece compreender o motivo da popularidade da série e, por conta disso, não poupa tempo em apresentar criaturas e explorar os seus poderes. Neste sentido, fica a menção aos efeitos visuais que destacam a capacidade do menino Lobo em captar os movimentos de seus inimigos através do som — rendendo uma ótima sequência no Porto da Palha, em Belém, inclusive.

A segunda temporada também abraça o lado sobrenatural de Eric, algo levemente mostrado na primeira temporada. Se no ano inicial da série da Netflix, o personagem trazia uma perspectiva humana, que servia como um guia para um submundo de folclore — apesar dele mesmo não ser apenas humano —, neste segundo ano, temos um Eric mais conectado com a mitologia da série. Aqui, Pigossi se mostra versátil e adota uma postura um pouco diferente daquele bom policial, com o seu lado mais místico em destaque.

Outro fator que merece atenção é a presença de figuras mitológicas da região norte do país. A segunda temporada introduz Matinta Perera (Letícia Spiller), uma bruxa capaz de transformar em uma coruja, e que tem um potente assobio; e a ótima Boiuna, também Débora Castro (Zahy Guajajara), uma mulher-cobra capaz de amedrontar as pessoas com um veneno mortal.

Contudo, nem tudo são Mulas sem Cabeças ou criaturas folclóricas. Em seus novos episódios, Cidade Invisível apresenta uma diversidade de figuras mitológicas em menos episódios, o que, por vezes, torna a temporada um pouco corrida. Isso porque, apesar de apresentar a origem de muitos deles, o seriado não consegue focar em todos e precisa fazer sacrifícios. Então algumas criaturas são utilizadas apenas para fazer a trama andar, sem uma profundidade muito grande, e acabam simplesmente sumindo de tela após cumprirem suas missões.

Belém e Amazônia Pajé Jacira em cena da segunda temporada de Cidade InvisívelPajé Jacira (Ermelinda Yepario) em cena da segunda temporada (Divulgação/Netflix)

A primeira temporada de Cidade Invisível recebeu críticas por se passar no Rio de Janeiro e ter uma ambientação meio genérica, apresentando criaturas que não tinham muita conexão com a capital carioca. Nesta segunda temporada da série, há uma maior atenção para este quesito.

A trama se passa em Belém do Pará e na Amazônia e apresenta os rios, as embarcações e moradias típicas do local. Além disso, os cenários são incluídos de maneira extremamente natural na jornada de Eric e Luna com implicações para os temas que movem a temporada. 

De maneira geral, a exploração de recursos naturais é o grande assunto da temporada, se conectando com os índices atuais de desmatamento do Brasil, mais especificamente da região norte do país. Só para se ter uma noção, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 2022 foi o ano com maior nível de desmatamento na Amazônia Brasileira com 10.573 km² de janeiro a dezembro do ano passado — um recorde desde que a pesquisa passou a ser feita em 2008.

Dessa forma, as ações das criaturas e dos humanos na segunda temporada discutem a necessidade da preservação dos recursos naturais e a exploração de florestas para a prática do garimpo ilegal.

Em relação a este tema, fica o destaque para as atuações de Kay Sara, como a promotora Telma, que advoga em torno da preservação das terras e das questões indígenas; Ermelinda Yepario, que interpreta a sábia Pajé Jaciara; e Zahy Guajajara, com a dicotomia entre a riqueza que vem da exploração de terras e sua relação com os povos originários. No geral, a segunda temporada de Cidade Invisível amplifica um discurso (que já era potente no ano inicial) e se compreende como uma série de folclore que advoga pelo bem-estar da natureza.

Mais pela frente Alessandra Negrini e Marco Pigossi em cena da segunda temporada de Cidade InvisívelAlessandra Negrini e Marco Pigossi passam por poucas e boas na nova temporada de Cidade Invisível (Divulgação/Netflix)

A série criada por Carlos Saldanha retorna para uma segunda temporada com uma quantidade menor de episódios — o que gera consequências positivas e negativas —, mas apresenta uma ambientação de qualidade e novas criaturas históricas do folclore brasileiro. Isto reforça a série como uma das grandes produções nacionais do catálogo da Netflix.

Pensando no futuro, Cidade Invisível deixa claro que tem fôlego para as novas temporadas e consegue explorar o vasto território nacional, desenvolvendo histórias sobre o que Brasil tem de melhor: sua diversidade!

As duas primeiras temporadas da série estão disponíveis na Netflix

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