Mercado Público de Porto Alegre enfrenta mais uma tragédia na sua história de 154 anos

Porto

O Mercado Público de Porto Alegre é uma grande entidade que abriga mais de 110 lojas que atendem a diferentes classes econômicas, sem distinções ou preconceitos. Lá podemos encontrar uma grande variedade de produtos, desde a tradicional erva-mate e artigos gaúchos, até açougues, peixarias, fruteiras, bancas de bebidas, produtos charcutaria, padarias, jogos de loteria, restaurantes, itens religiosos, lembranças e até mesmo equipamentos de limpeza. O mercado possui uma história de 154 anos, enfrentando várias enchentes e um grande incêndio em 2013. Atualmente, encontra-se inundado, com mais de um metro de altura. Podemos navegar pelos amplos corredores do mercado de barco, frequentado diariamente por mais de 50 mil pessoas.

O dano é enorme. Atualmente é impossível determinar os prejuízos, conforme relatou Rafael Sartori, presidente da Associação dos Permissionários, com apenas 30 anos de idade, o dirigente mais jovem da organização. Durante uma entrevista para uma estação de rádio, ele disse: "Tudo no térreo foi perdido. Não temos ideia do que acontecerá conosco quando reabrir, provavelmente no final de junho".

De acordo com Sartori, as queixas dos moradores da região sobre o mau odor, cheiro desagradável, esgoto obstruído e água imprópria podem ter diversas causas. Alimentos como frutas, legumes, carne e peixe estragados têm contribuído para a situação. No entanto, Sartori discorda da afirmação de que a área está infestada de ratos e baratas que fugiram de seus esconderijos e se espalharam pelo centro da cidade. "Não é verdade. Há presença de ratos e baratas, mas não na dimensão que estão sendo divulgadas nas redes sociais", disse ele.

No Bar Chopp 26, um espaço pluralista que acolhe distintas visões ideológicas, crenças e classes sociais, um grupo de jornalistas aposentados, progressistas e veteranos em sua área, assim como escritores destacados, como Rafael Guimaraens – autor de um livro acerca da enchente de 1941 –, se reúne semanalmente para discutir os rumos do Brasil ou simplesmente trocar livros, figurinhas e indicações de filmes. Na mesa, aparecem sempre alguns convidados, entre eles o ex-governador Olívio Dutra, enquanto outros jornalistas conhecidos passam por lá para cumprimentar seus colegas, como a pré-candidata a prefeita Maria do Rosário, entre muitos outros.

Atualmente, somos atendidos pelo cozinheiro Lázaro e sua equipe de empregados cordiais e eficientes. Contudo, surge uma grande preocupação: onde estão Lázaro e seus companheiros? Procuramos por eles, mas parece que estão inacessíveis, pois ainda não recebemos notícias. Apesar disso, esperamos sinceramente que estejam bem, com boa saúde, bem acomodados e confortáveis.

O Mercado Público emprega muitos trabalhadores que dependem dos lucros dos permissionários para sobreviver. No entanto, com a ausência de receita e a falta de recursos financeiros, esses trabalhadores estão apenas esperando para ver o que o futuro reserva. Os proprietários das lojas e barracas são, em sua maioria, pequenos empresários. Há poucos ricos na região. O Mercado Público, estabelecido em outubro de 1869, é o mais antigo do Brasil e é um destino turístico popular na capital gaúcha.

A Loja do Holandês, fundada em 1919, é reconhecida como a primeira loja de especiarias da cidade e é um ponto de encontro popular. A Banca 43 é outro local que atrai pessoas para provar suas renomadas saladas de frutas e sorvetes, conhecidos em todo o país. Algum tempo atrás, durante uma viagem distante, alguém me questionou se a Banca 43 ainda existia. "Foi lá que eu experimentei o sorvete mais delicioso da minha vida", compartilhou essa pessoa.

O Mercado Público do Rio Grande do Sul é conhecido pela sua importância cultural e tradição. É palco de diversas apresentações artísticas, comunitárias e religiosas, incluindo aquelas realizadas por praticantes de religiões afro-brasileiras. A gestão e coordenação das atividades administrativas e operacionais do Mercado é responsabilidade da Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio (SMAP), com o apoio da Associação do Comércio do Mercado Público (Ascomepc) para preservar e desenvolver esse importante espaço.

É importante acompanhar de perto a ágil restauração do Mercado Público, de modo a assegurar a subsistência de seus negociantes e colaboradores, bem como manter sua relevância turística na região gaúcha e sua importância no cotidiano da população.

Eugênio Bortolon atua como profissional na área jornalística.

Este texto consiste em uma perspectiva pessoal e não representa necessariamente a posição oficial do Brasil de Fato.

Origem: BdF Rio Grande do Sul

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