Análise: 7 fatos sobre os sinais e recados sobre o ato pró-Bolsonaro em Copacabana | Blogs CNN | CNN Brasil
O progenitor do Benjamin teve passagem por diversas mídias, como a TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, o mesmo desempenhou suas funções em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, relatando narrativas sobre a vida nas cidades e de seus habitantes.
Com uma trilha sonora envolvente e efeitos acústicos, Jair Bolsonaro (PL) desempenhou um discurso que durou mais de trinta minutos em um dos trios espalhados pelo centro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.
Acompanhado por parlamentares e líderes de opinião, o antigo chefe de Estado reutilizou afirmações e pronunciamentos proferidos em outras ocasiões, almejando se manter presente na arena política como uma figura importante da direita, em sua nova posição de oposição no Brasil. Entretanto, terá logrado êxito em seu intento?
O objetivo deste texto é abordar sete assuntos relacionados ao acontecimento, de modo que o leitor consiga avaliar o impacto que a manifestação deste domingo, 21 de abril, terá na cena política brasileira ao final da leitura.
Conforme dados do Monitor de Debates Políticos no Ambiente Digital da USP, Copacabana contou com a presença de 32.750 indivíduos que apoiaram a causa. Vale destacar que tal quantidade foi levemente inferior àquela registrada na Avenida Paulista, que recebeu cerca de 185 mil pessoas dois meses antes.
Observar o valor numérico de forma isolada não proporciona uma visão ampliada sobre o impacto político e a medida de envolvimento. O cálculo independente é realizado com base nas imagens capturadas por um drone e submetidas a análise através de um software de Inteligência Artificial.
No entanto, os coordenadores do evento já previam uma presença menos expressiva em comparação ao público presente em São Paulo. Isso se deve, em parte, ao fato de que a capital do Rio de Janeiro conta com apenas metade da população da capital paulista, além de que o feriado de São Jorge, na terça-feira, levou muitas pessoas a viajar. E não podemos esquecer que, com um dia ensolarado, Bolsonaro teve como concorrente a praia, que é uma atração bastante popular aos domingos.
Não há dúvida sobre a melhoria da organização das demonstrações. Desta vez, a estrutura estava ainda mais avançada do que no evento de São Paulo. Durante as falas dos políticos, drones voaram sobre a área, transmitindo imagens ao vivo nas redes sociais, que contavam com pelo menos quatro câmeras para captar diferentes ângulos.
A melhoria da qualidade sonora também foi aprimorada, com alto-falantes que não causaram feedback, um som desagradável que pode causar dor nos ouvidos, e permitir que todos os presentes pudessem entender as falas, incluindo aqueles mais distantes. Além disso, um animador de plateia se alternou com o pastor Silas Malafaia para anunciar os políticos que estavam chegando e que falariam, acrescentando trilhas sonoras e efeitos para melhorar as falas.
A organização não foi improvisada, e ainda incluiu um logotipo exclusivo e rapidez na criação de conteúdo específico para todas as plataformas de mídia logo após o evento. Isso demonstra aos oponentes de Bolsonaro que devem estar atentos.
No começo de suas palavras, ele afirmou que, apenas utilizando um aparelho telefônico e seu filho como estrategista de campanha, alcançou a posição de líder da nação. Contudo, em tempos atuais, emprega essa abordagem profissional para ampliar sua mensagem nas plataformas digitais, provocando discussões acaloradas e divergências de opinião.
Minutos antes do começo do evento, uma mulher acenava uma bandeira do PT da sacada do edifício. Lá pendia também uma toalha com a imagem de Lula. Quando os bolsonaristas notaram a provocação, responderam aos gritos: "Nossa bandeira nunca será vermelha".
Embora enfraquecida em comparação a outras ocasiões, os apoiadores de Bolsonaro continuam fiéis aos mesmos símbolos que surgiram em 2014 e 2015, quando o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) estava se delineando.
A cultura do grupo foi se fortalecendo com o tempo, porém, certas tradições como a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, a bandeira nacional, a rejeição a ideais vermelhos e ao Partido dos Trabalhadores liderado por Lula, e até algumas canções e slogans de guerra se mantêm intactos.
Qual é o significado disso? É simples: existe uma linguagem de identificação estabelecida que todos compreendem. Em outras palavras, quem se identifica como bolsonarista pode identificar outro bolsonarista através de elementos visuais, por exemplo. É como ser parte de uma torcida uniformizada, onde cantos e cores incentivam a sensação de pertencimento e, assim, o comportamento de grupo.
Há um aspecto adicional que joga a favor de Bolsonaro, a habilidade do seu grupo político em inventar histórias sobre diversos assuntos. Recentemente, as principais pautas se concentraram no contexto global.
Na cidade de São Paulo, a manifestação ganhou força ao se unir à defesa do Estado de Israel, após uma declaração de Lula sugerir que o governo israelense praticava atos comparáveis aos dos nazistas, que suprimiam a população judaica. Essa fala foi proferida alguns dias antes e foi interpretada pelos organizadores do evento como uma forma de intolerância religiosa, atacando a crença, um dos valores centrais da cultura bolsonarista.
O enredo dessa vez girou em torno do magnata sul-africano Elon Musk, proprietário das empresas X e Tesla e um oponente frequente de Alexandre de Moraes, que aparentemente superou até mesmo Lula e se tornou a principal vítima do bolsonarismo. As falas mencionaram Musk e havia também cartazes com sua imagem.
A capacidade da oposição em criar narrativas a partir de eventos específicos, comentários e medidas políticas é mais um motivo de preocupação em relação a Lula.
Quando há um adversário em comum, é possível unir qualquer pessoa. E, na manifestação ocorrida neste domingo – vale ressaltar que, diferente do que muitos previam, não se encontrava tão lotada assim –, um clamor recente, intenso, assumiu o papel de um excelente difusor: a luta pela liberdade de expressão, tópico extremamente importante para a ala direita, que faz uso das mídias sociais agressivamente para emitir sua posição.
O que motivaria um parlamentar do Tocantins ou de Goiás a se dirigir voluntariamente a um evento em um domingo, estando a menos de seis meses das eleições municipais? Mesmo sem dar nenhum discurso, esse parlamentar apenas manifesta apoio a um político que nem sequer tem chances de ser eleito nos próximos oito anos.
É importante ressaltar que houve uma decepção por parte dos responsáveis pelo evento. Eles esperavam inicialmente a presença de 60 deputados federais, 8 senadores e 3 governadores. Porém, perceberam que a adesão foi significativamente menor do que o esperado. Com isso, eles tiveram que diminuir as expectativas para 25 políticos presentes, entre deputados e senadores.
Mesmo sem a presença de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o meio político se mobilizou e líderes e deputados fizeram vídeos convocando para os protestos. O movimento também contou com a adesão de deputados estaduais da Alerj, além de vereadores bolsonaristas de diversas cidades, incluindo o Rio. Houve até mesmo a presença do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), no ato.
A ânsia por uma fotografia ao lado de Bolsonaro, especialmente por parte de políticos com cargos inferiores, evidencia o impacto eleitoral que o nome do ex-capitão reformado ainda possui, e que é valioso para obter votos tanto em grandes quanto em pequenas localidades.
De acordo com informações da Quaest, aproximadamente 35% dos votantes do Brasil mantêm-se fiéis e comprometidos com Jair Bolsonaro. Em termos matemáticos, esse número é o bastante para garantir uma vaga no segundo turno em localidades que apresentam essa oportunidade.
Entretanto, em uma localidade como o Rio de Janeiro, um grupo de 32 mil indivíduos não possui relevância para uma campanha eleitoral para a prefeitura, como a de Alexandre Ramagem, que está se candidatando com o apoio de Bolsonaro. Na melhor das hipóteses, tal grupo poderia assegurar apenas uma das 51 vagas na Câmara. Assim, as eleições de 2024 representarão mais um grande desafio para o partido político de Jair Bolsonaro.
Mulheres Destacadas
Um aspecto igualmente relevante da ação realizada no domingo foi a participação de mulheres, desde a iniciativa de convocação, produção de vídeos focados na audiência feminina, até a execução propriamente dita.
A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro foi responsável pelo primeiro pronunciamento no palco. No entanto, durante o evento, Bolsonaro apresentou Zoe Martinez, uma cubana de 24 anos que pretende concorrer ao cargo de vereadora na cidade de São Paulo.
Nesse contexto, é notável a menção às mulheres, visto que elas são um dos grupos nos quais Lula vem perdendo apoio popular.
Levando em conta todos os aspectos mencionados, é possível afirmar que, de fato, a manifestação não atendeu às expectativas. Os próprios apoiadores de Bolsonaro esperavam uma adesão mais expressiva, o que acarretaria numa maior repercussão.
Entretanto, isso não significa que o bolsonarismo como movimento político tenha perdido força. Ademais, esse evento também apresenta algumas indicações e tarefas para o governo Lula, que vem enfrentando derrotas justamente em questões que fazem parte do núcleo cultural e simbólico dos seguidores de Jair Bolsonaro.