Semaglutida injetável pode agravar a retinopatia?

Semaglutida

A possibilidade de aumento discreto do risco de piora da retinopatia após um ano de uso da semaglutida injetável não supera os benefícios cardiovasculares associados ao medicamento, mas reforça a necessidade de avaliação oftalmológica antes do início do tratamento e do monitoramento contínuo da retina. Esta foi a conclusão de uma metanálise baseada em dados dos sete principais estudos sobre desfechos cardiovasculares associados aos agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1, sigla do inglês glucagon-like peptide 1) comercializados nos Estados Unidos.

Os achados foram publicados por Dr. Stewart G. Albert et al. no periódico Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews.

As primeiras preocupações em relação ao agravamento da retinopatia com o uso de agonistas de GLP-1 surgiram no estudo SUSTAIN-6, que analisou desfechos cardiovasculares associados à semaglutida injetável. Mas uma análise subsequente dos dados desse estudo sugeriu que o problema provavelmente seria devido à rápida redução da glicemia em pacientes já vulneráveis, e não um efeito específico do medicamento. Esse efeito já havia sido relatado anteriormente, especialmente pelo Diabetes Control and Complications Trial , considerado um estudo de referência.

Na nova metanálise, "mostramos que, com a melhora [dos níveis] de hemoglobina glicada (HbA1c), surgiram correlações com a redução da taxa de eventos cardiovasculares e aumento da incidência de retinopatia", disse ao Medscape o Dr. Stewart, médico afiliado à Saint Louis University School of Medicine nos Estados Unidos.

"Considerando a classe farmacológica, não encontramos aumento da incidência de retinopatia. O efeito dos agonistas de GLP-1 sobre a retinopatia não parece ser devido a um efeito tóxico direto e imediato dos medicamentos. A piora da retinopatia foi observada após um ano de tratamento com a semaglutida, quando houve diminuição de 1% da hemoglobina glicada”, ele explicou.

O Dr. Stewart observou que, como o aumento do risco foi observado principalmente entre pacientes que já apresentavam retinopatia no início do estudo, "parece prudente saber qual o nível de retinopatia antes [do tratamento com semaglutida] ou planejar um monitoramento oftalmológico cuidadoso no início do uso desse medicamento. Normalmente avaliamos os pacientes com diabetes mellitus tipo 2 prévio anualmente para [detectar e acompanhar] a retinopatia. A partir de nossos dados, vimos uma piora após um ano de exposição ao medicamento, mas não sabemos em que momento exato desse período essas mudanças ocorreram”.

O rótulo do OzempicÒ (nome comercial da semaglutida injetável) informa que "pacientes com história de retinopatia diabética devem ser monitorados quanto à progressão da retinopatia", mas não menciona especificamente uma avaliação inicial no momento da introdução do medicamento.

Não houve aumento do risco de retinopatia com a classe de agonistas de GLP-1

Os sete estudos avaliados na metanálise incluíram um total de 56.004 participantes, com uma prevalência inicial de retinopatia variando entre 9% e 31%.

Considerando a classe de agonistas de GLP-1 de forma geral, não houve aumento significativo da taxa relativa (TR) de retinopatia (TR de 1,09; p = 0,36), apesar de terem ocorrido reduções significativas das taxas relativas de eventos cardiovasculares adversos graves, mortes em geral e mortes por eventos cardiovasculares (p £ 0,001 para todos).

O aumento do risco de retinopatia foi observado apenas no grupo que recebeu a semaglutida por via subcutânea (TR de 1,73; p = 0,02).

Globalmente, o número necessário para causar danos foi igual a 1.000 e o número necessário para tratar correspondeu a 77. Considerando apenas a semaglutida, esses valores foram 77 e 43, respectivamente.

Houve correlação significativa entre a redução dos eventos cardiovasculares adversos graves e a redução da hemoglobina glicada (p = 0,014). Já com relação à retinopatia, o risco aumentou com a melhora dos níveis de hemoglobina glicada (p = 0,076).

Subanálise da semaglutida detecta intensificação da piora da retinopatia 

O Dr. Stewart e seus colaboradores conduziram separadamente uma subanálise de 11 estudos sobre a semaglutida que incluíram 11.894 pacientes, dos quais seis estudos (n = 5.610) foram sobre a semaglutida oral e cinco estudos sobre a semaglutida injetável por via subcutânea (n = 6.284).

Nessa subanálise, houve aumento global das taxas relativas de retinopatia inédita ou agravada (TR de 1,218; p = 0,049).

A mudança na taxa relativa de retinopatia foi encontrada predominantemente após o uso da semaglutida por via subcutânea por mais de um ano (TR de 1,559; p = 0,022) e com reduções dos níveis de hemoglobina glicada maiores do que 1,0% (TR de 1,590; p = 0,016). Essas diferenças não foram observadas com a semaglutida oral.

Uma avaliação adicional dos dados, sem considerar o estudo SUSTAIN-6, não mostrou nenhum efeito sobre a retinopatia, mas essa análise teve baixo poder estatístico.

O Dr. Stewart disse ao Medscape: "Não encontramos um efeito tóxico imediato relacionado a nenhum medicamento. No entanto, não podemos descartar que houve efeito cumulativo da dose [administrada] após períodos mais longos”.         

Não foram informados conflitos interesses. 

Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews. 2023;17:102696. Abstract

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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