Progressão continuada prejudica a qualidade da educação no Brasil?

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e possibilitar que os alunos avancem no aprendizado mesmo sem terem atingido nota mínima. Essa metodologia visa à inclusão e ao combate ao repetição e evasão escolar, além de privilegiar o desenvolvimento integral dos estudantes. Por isso, é importante que a escola ofereça suporte pedagógico e acompanhamento individualizado para cada estudante.

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As duas garotas que pertencem ao consultor Fábio Olmos com idades de 7 e 9 anos, frequentam uma escola pública na região da Vila Matilde, Zona Leste de São Paulo. Fábio se orgulha da escola que suas filhas estudam, considerando-a de excelente qualidade, por possuir professores bem capacitados, manter um bom relacionamento com os pais, possuir uma boa estrutura e ser renomada no bairro.

A caçula de Olmos, entretanto, ainda não alcançou as competências de alfabetização aguardadas para sua faixa etária, e seu pai preferiria que ela refizesse o segundo ano do ensino fundamental em virtude disso.

Entretanto, a possibilidade acima mencionada não é viável, porque a rede pública de ensino emprega o método da progressão continuada, no qual os estudantes adquirem aulas adicionais, mas não são reprovados.

Após o término do ciclo inicial, correspondente à 3ª série, ela precisa frequentar aulas complementares para acompanhar o próximo ciclo escolar. Fábio sente-se descontente com esse método.

"Essa é a minha principal preocupação. De nada adianta ela ser promovida para o próximo ano escolar se ela enfrenta dificuldades ao escrever. Isso pode comprometer seriamente o seu desempenho acadêmico", afirma ele.

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Encerramento de Conteúdos Sugeridos

De que maneira ela conseguirá progredir nos estudos de inglês, por exemplo, se ainda enfrenta obstáculos na escrita da sua língua materna?

Fábio acredita que o suporte educacional adicional que sua filha recebe, comparecendo a aulas mais cedo por duas vezes na semana, não é adequado.

Compreendo que ela possa se sentir frustrada ao repetir uma atividade, já que seus amigos foram para outra sala. Entretanto, tal questão é insignificante em comparação com o risco de ela prosseguir sem ter absorvido o conhecimento necessário.

Ele não é o único descontente: vários pais fazem críticas à promoção contínua e pessoas que também lecionam demonstram discordância.

A variação consiste em um estudante não ter o privilégio de repetir a cada ano em caso de insuficiência de notas, de tal forma que essa circunstância só ocorre ao fim de cada ciclo, normalmente com duração de três anos.

A promoção continuada foi implementada no Brasil quando surgiu a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a área educacional, em 1996.

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A lei permitiu o uso desse sistema de progressão escolar atual, mas não tornou seu uso compulsório. Cada Estado e cidade pode decidir se quer adotá-lo ou não, e o próprio Ministério da Educação (MEC) não sabe quantos Estados fazem uso dessa progressão.

Em 1998, o Estado de São Paulo foi pioneiro em adotar o sistema em todas as escolas pertencentes à rede pública estadual.

De acordo com um levantamento realizado pela BBC News Brasil, pelo menos outros oito estados brasileiros (Acre, Amazonas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro), além do Distrito Federal, implementaram o sistema de progressão continuada ou uma metodologia semelhante desde então.

Foram comunicados por seis estados (Bahia, Paraná, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) que a progressão não é aplicada, enquanto que outros 11 estados não forneceram informações ao questionamento realizado pela equipe de reportagem.

Seguindo uma abordagem diversa, Anna Helena Altenfelder, integrante do Centro de Estudos e Pesquisar em Educação (Cenpec), uma entidade beneficente com foco na melhoria da excelência do ensino público em todo o território nacional, explica que a progressão contínua surgiu como medida para evitar a desistência escolar e alcançar o objetivo de propagar a educação por todo o Brasil, ou seja, facilitando o acesso de todos a um ensino excelente, ao mesmo tempo em que incentivam a continuidade dos estudos.

Conforme declarado pela pesquisadora, a tática foi efetiva e resultou na redução da evasão. Entretanto, a abordagem é bastante debatida pois gerou uma nova questão.

É possível que um estudante termine o ensino fundamental sem ter domínio das noções elementares - existe a ocorrência de alunos progredirem para o ensino médio sem sequer serem capazes de compreender uma leitura básica.

De acordo com o sistema de avaliação do rendimento escolar do Estado de São Paulo, que inovou ao implementar a técnica de progressão, os resultados de 2019 indicam que antes da pandemia, 69% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental possuíam conhecimentos insuficientes em português. No que se refere a matemática, 80% dos alunos da mesma série apresentaram um desempenho considerado inadequado.

Outras pesquisas foram realizadas posteriormente, no entanto, de acordo com os especialistas, a crise sanitária ocasionada pela pandemia de covid-19 ocasionou obstáculos que prejudicaram os dados, não sendo apropriados para este tipo de avaliação.

Professores entrevistados pela BBC News Brasil indicam que o inconveniente não reside na política de progressão continuada em si, mas sim na sua implementação, principalmente quando se traduz em uma aprovação automática.

Adicionalmente, Estados que não adotam o sistema apresentam desempenho parecido com os que adotam — o que sugere que os obstáculos no processo educacional público do Brasil são decorrentes de uma raiz mais complexa, conforme afirmam os especialistas.

Altenfelder afirma que se dez pessoas forem questionadas, a maioria delas demonstrará preocupação em relação ao avanço educacional contínuo. Eles justificarão sua inquietação dizendo que muitos alunos deixam a escola sem habilidades suficientes em áreas como português e matemática.

Realmente, as análises indicam deficiências de forma clara. O erro consiste em pensar que o sistema anterior era superior.

"Repetição De Série: O Que Revelam Os Estudos?"

A recorrência de ciclos de ensino é um assunto que tem sido abordado em diversos estudos realizados tanto no Brasil quanto no exterior.

Segundo a Unesco, que é uma organização parceira das Nações Unidas na promoção da educação, existem estudos que sugerem que a repetição em cada ano escolar pode ter alguns benefícios. No entanto, a maioria das evidências indica que, em países em desenvolvimento, isso pode causar mais prejuízos do que vantagens.

De acordo com Rebeca Otero, chefe de educação da UNESCO no Brasil, os resultados de todos os exames, especialmente matemática e leitura, são menores para estudantes da América Latina que já repetiram pelo menos uma vez.

Em outras palavras, o aluno recorre à repetição com o intuito de aprimorar sua performance educacional, contudo, frequentemente, tal intento não se concretiza.

De acordo com a avaliação da Unesco, a retenção de alunos está correlacionada com maiores chances de desistência escolar, maior probabilidade de atraso de dois anos ou mais em relação à sua série esperada para a sua idade, conhecida como defasagem idade-série, e efeitos desfavoráveis na autoconfiança e entusiasmo dos estudantes que ficaram retidos.

As informações demonstram igualmente que os índices educacionais abrangentes em que se implementou a reprovação são semelhantes aos em que se adotou o sistema de promoção automática.

Tomando como exemplo o estado do Paraná, no qual inexiste política de progressão continuada, o método de avaliação de desempenho estudantil referente a 2019 evidenciou que 68% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental apresentaram resultados aquém do esperado em relação ao idioma português. Tal percentual aproxima-se significativamente dos 69% registrados no estado de São Paulo.

Otero esclarece que a Unesco não emite uma recomendação particular acerca do tema, visto que toda orientação necessita do aval de todos os países membros e não existe um consenso.

Ela argumenta que utilizar a repetição de ano "deve ser a última opção para solucionar o problema da defasagem educacional dos alunos".

De acordo com Altenfelder, a retenção não se mostra como uma ferramenta pedagógica eficiente, uma vez que, de modo geral, o aluno não consegue adquirir habilidades que não tenha conseguido desenvolver anteriormente ao repetir um ano letivo.

Segundo a pesquisadora, é comum que certos estudantes repitam de ano mais de uma vez. Embora exista a possibilidade de um aluno repetente eventualmente se desenvolver e aprender, isso é uma situação rara.

Estudantes que ficam retidos em uma série tendem a repetir esse comportamento e, consequentemente, desistir dos estudos. A situação em que um aluno se encontra fora da escola é a pior possível.

Ivan Gontijo, gestor de políticas educacionais na organização sem fins lucrativos Todos pela Educação, concorda com essa perspectiva.

Gontijo, um antigo professor de ensino fundamental, questionou: "Se o estudante falhou, por que insistir em utilizar os mesmos métodos de ensino, ter as mesmas matérias e enfrentar as mesmas dificuldades na rede? Como esperar que ele aprenda?"

"Não será efetivo, é necessário um engajamento distinto em relação a este aluno."

As indicações de que a retenção de ano escolar está associada a uma maior deserção escolar geram apreensão entre os administradores públicos, devido à responsabilidade do Estado em assegurar que todas as crianças e jovens estejam matriculados.

educacional moderno. Uma escola bem equipada e organizada oferece aos alunos uma experiência de aprendizado mais enriquecedora e completa. A biblioteca, em particular, é crucial para expandir os horizontes dos estudantes e fornecer recursos valiosos para suas pesquisas. Portanto, é vital que os governos e as instituições educacionais invistam em infraestrutura escolar para garantir que os alunos tenham acesso a recursos adequados e modernos para aprendizagem efetiva.

Por Que Escolas Adotaram A Progressão Continuada?

De acordo com a pedagoga Cleidilene Ramos Magalhães, no momento em que se implementou a progressão escolar no Brasil, as maiores dificuldades enfrentadas pela educação pública eram a elevada taxa de reprovação, a disparidade entre a idade dos alunos e a série em que se encontravam e a alta taxa de desistência escolar.

Magalhães, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), menciona que o Brasil tardou em universalizar a educação, apenas o fazendo no término do século passado.

A concepção de progressão ininterrupta e a noção de que a retenção não é uma prática favorável têm sido discutidas desde a década de 1920.

De acordo com a pesquisadora Claudia Costin, que lidera o Instituto Singularidades - uma instituição que trabalha para melhorar a formação de profissionais da educação - a implementação de sistemas de ciclos e progressão continuada teve um impacto positivo na diminuição da evasão escolar.

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC), a proporção de analfabetismo no ensino fundamental era de cerca de 5% em 2007, tendo diminuído gradualmente até chegar a 2,2% em 2020. No entanto, houve um aumento durante a pandemia de Covid-19.

No nível educacional secundário, houve uma taxa de abandono escolar de 13,2% em 2007, a qual se reduziu para 6,9% em 2020.

De acordo com Costin, muitos pensam que a reprovação foi completamente eliminada no Brasil, mas isso não é verdade. Ainda há altos índices de reprovação, tanto em escolas que aplicam a progressão continuada como em escolas onde existe a possibilidade de reprovação ao final de cada ciclo.

De fato, dentre os 38 países avaliados em um estudo conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é um dos que apresentam maior taxa de reprovação.

De acordo com Costin, a taxa de fracasso escolar é mais elevada durante o sexto ano do ensino fundamental e nos primeiros anos do ensino médio. Há uma clara correlação entre esses resultados e a falta de motivação e desistência dos estudantes.

De acordo com Gontijo, membro do Todos pela Educação, é evidente que os fatores socioeconômicos desempenham um papel importante no que diz respeito aos altos índices de retenção e evasão escolar.

Ele afirma que está relacionado às situações financeiras da família, ao nível educacional da mãe, à fragilidade habitacional, entre outros fatores.

Com isso, a falta de aprovação é uma questão significativa na rede escolar pública, a qual presta assistência aos estudantes que se encontram em uma posição de maior fragilidade.

Progressão Contínua Versus Aprovação Automática

Segundo os estudos da especialista em sociologia e educação, Maria Valéria Barbosa, a implementação da progressão continuada tem como objetivo tornar o sistema educacional mais abrangente, oferecendo ao estudante um prazo mais elástico para seu aprendizado.

Ela afirma que isso não pode ser interpretado como uma garantia de passagem ou aprovação automática.

"A promoção continuada não implica na falta de avaliação, pelo contrário", afirmou Barbosa, docente na Universidade Federal de São Paulo.

Para que ocorra um bom desempenho, é imprescindível que seja realizada uma avaliação contínua, não apenas ao término de um período ou etapa, com o intuito de detectar as dificuldades dos alunos que carecem de atenção, permitindo que eles possam progredir para a fase subsequente sem maiores impedimentos.

Em outras palavras, em uma situação ideal, a cada ano letivo, os estudantes realizam avaliações, tarefas e projetos, visando permitir que a escola verifique o quanto foi absorvido das habilidades e do conhecimento exigidos.

A instituição educacional tem a responsabilidade de disponibilizar recursos adicionais para auxiliar os estudantes a superar quaisquer dificuldades que possam surgir, tais como aulas complementares, atividades extracurriculares e parcerias com outras organizações.

Contudo, segundo Barbosa, é frequente ocorrer situações diferentes disso.

Segundo Barbosa, a ideia por trás da adoção da progressão continuada foi não apenas reduzir a taxa de evasão escolar, mas também melhorar a eficácia do ensino e reduzir os custos envolvidos, já que ter um aluno retido implica em um gasto financeiro adicional.

Na perspectiva de maximização de desempenho, não se realizou os aportes requeridos para alavancar a viabilidade da progressão contínua.

Segundo Claudia Costin, especialista do Singularidades, alguns estados adotaram a política de aprovação automática sem adotar medidas eficazes para corrigir as deficiências de aprendizagem, que se acumulam à medida que as crianças passam para os ciclos seguintes.

Costin argumenta que não se deve sacrificar a qualidade da educação do aluno para combater a repetição e o abandono escolar.

Docentes entrevistados pela BBC News Brasil concordam neste aspecto.

De acordo com eles, o desempenho educacional insuficiente não se deve à política de promoção automática em si, mas à ausência de recursos para implementar o modelo da maneira como foi concebido.

De acordo com a líder da Apeoesp, deputada estadual Maria Izabel Noronha, a cidade de São Paulo não adota o conceito de progressão continuada, mas sim o de aprovação automática.

Sinto-me extremamente frustrado por presenciar o fracasso da progressão continuada, devido à inapropriada implementação, uma vez que sou uma pessoa progressista e acredito no avanço da pedagogia.

O docente de história Juliano Godoi, que ministra aulas por mais de uma década na rede pública de ensino paulistana, assente.

Segundo ele, o modelo de avanço escolar constante exige que se dê ênfase ao crescimento individual de cada estudante, levando em conta suas particularidades e eventualidades de compreensão.

"Contudo, de que modo o docente pretende realizar tal feito em um grupo composto por 35 estudantes?"

Godoi ressalta também os desligamentos recentes de vários docentes temporários da rede pública de ensino em São Paulo, que foram contratados durante o período de 2018 a 2020.

De que maneira um docente conseguirá oferecer o suporte apropriado, idealizar o projeto educacional, se encontra-se apreensivo em relação à possibilidade de quitar suas despesas financeiras ao término do ano?

De acordo com a BBC News Brasil, a Secretaria de Educação de São Paulo informou que a ampliação de acordos temporários foi uma das principais metas da administração atual, o que levou à prorrogação do contrato de 61 mil educadores contratados temporariamente entre 2021 e 2023 no mês de dezembro.

Segundo o governo, uma tarefa mais desafiadora consiste na redução das dimensões das salas.

Vinicius Neiva, o secretário executivo de educação de São Paulo, afirmou que o custo anual de cada turma é de R$ 45 mil. Para acomodar 20 alunos por sala, seria necessário dobrar o tamanho das idades. Isso resultaria em uma demanda bilionária de recursos.

Para que o modelo seja bem-sucedido, é fundamental oferecer aos professores condições de trabalho mais favoráveis.

Na Sua Rotina? Melhorias Na Rotina Diária

Anne Telma Mieri, uma professora que tem 27 anos de experiência no ensino, atualmente trabalha conduzindo aulas no ensino fundamental em Jundiaí, situada no interior de São Paulo. Ela é uma das professoras que enxerga muitos benefícios na adoção da progressão continuada.

Ela declarou que, por meio da evolução constante, são oferecidas oportunidades para todos os estudantes.

Um estudante de uma escola em bairros periféricos possui uma vivência completamente distinta daqueles que frequentam um colégio central, que têm maiores recursos financeiros e possibilidade de acesso à informação. Quando o aluno conta com uma família presente e interessada em seu desenvolvimento, esse fato acaba sendo crucial para sua trajetória escolar.

Porém, a fim de garantir a efetividade desse modelo, é necessário que haja uma equipe pedagógica coesa, uma gestão que compreenda a metodologia adotada e um aporte financeiro para otimizar o processo de aprendizagem das crianças que não alcançam as habilidades esperadas ao término de cada etapa.

Ao término de cada fase, produzo um minucioso registro individual das aptidões assimiladas e as que ainda precisam ser trabalhadas pelos alunos. É importante que essas demandas sejam solucionadas logo no início do próximo ciclo, embora nem sempre isso ocorra.

De acordo com Ivan Gontijo, representante do Todos pela Educação, muitos docentes mostram resistência em relação à promoção de alunos, pois acreditam que o risco de retenção é uma maneira eficaz de impor disciplina.

"Priorizar a ordem é imprescindível, pois o aprendizado não é eficaz no meio da confusão. Por óbvio, ao lidar com turmas maiores, é comum haver maior incidência de comportamento inapropriado, entretanto, é primordial capacitar os docentes para desenvolverem outras técnicas", afirma Gontijo.

Ele alega que, em várias ocasiões, os estudantes perturbam a classe devido à falta de conhecimento.

Existem professores que alegam que os estudantes não demonstram interesse, porém, se eles não possuem interesse, a mera ameaça de reprová-los não irá proporcionar disciplina.

De acordo com Cleidilene Ramos Magalhães, da UFCSPA, a questão da disciplina está diretamente ligada à capacitação e ao suporte que os educadores necessitam para implementar o método de progressão contínua de forma eficiente.

Ela menciona que ao se tratar de condições laborais, não se está apenas abordando o aspecto salarial e a quantidade de horas trabalhadas.

Ela afirma que ter um profissional da psicologia disponível dentro da escola pode ser muito útil, já que diversos casos de indisciplina podem ter raiz em questões emocionais ou dificuldades pessoais dos estudantes.

Segundo ele, a implementação do modelo de progressão esbarra em obstáculos como a ausência de capacitação recorrente dos docentes e a falta de grupos dedicados à elaboração do plano educacional.

Aproximadamente 70% dos docentes que atuam na rede pública do Brasil foram capacitados por meio do ensino à distância, sem terem passado por experiências presenciais em sala de aula.

Gontijo afirma que o docente deve estabelecer um vínculo com os estudantes, compreender as suas trajetórias pessoais, estabelecer uma relação mais próxima, pautada no papel de mentoria.

Tornar isso uma realidade é difícil se muitos dos professores não são fixos, precisando se deslocar frequentemente para lecionar em diversas escolas. A fim de proporcionar aos alunos uma experiência educacional de qualidade, é crucial que o professor tenha tempo adequado para se dedicar a eles.

Gontijo afirma que seria um erro retornar ao sistema anterior, apesar das dificuldades que interferem na execução adequada da progressão continuada.

De acordo com a declaração, reintegrar a prática repetitiva em todas as séries sem abordar outras questões não traria benefícios, mas sim aumentaria a quantidade de crianças que abandonam as instituições de ensino.

De acordo com a opinião dos profissionais entrevistados pela BBC News Brasil, é consensual que a principal preocupação das instituições de ensino públicas deveria ser aprimorar a assistência para estudantes com necessidades especiais e as condições laborais dos educadores, em vez de revisar o sistema de progressão.

Claudia Costin afirma que é preciso realizar um grande aporte financeiro para alcançar tudo isso.

Investir em uma educação superior pode exigir um alto custo.

Escolas Privadas Usam Progressão?

Não há registro encontrado pela BBC News Brasil a respeito do emprego de método de aprovação contínua nas instituições de ensino privadas.

Organizações como o Sindicato dos Institutos de Educação em São Paulo (Sieeesp) não possuem tais informações.

Profissionais que são especializados na área explicam que, apesar de ser comum o uso de repetição, muitas escolas aplicam técnicas contínuas de desenvolvimento, que são equivalentes às práticas da progressão continuada, mesmo que não possuam esse nome.

Analistas apontam que escolas particulares que não utilizam o método de repetição tendem a dispor de mais recursos em comparação ao ensino público, permitindo que os alunos recebam o apoio necessário e evitem atrasos.

Técnicos afirmam que a área não precisa se inquietar com a deserção, pois não está incumbida de suprir a totalidade dos cidadãos.

Claudia Costin destaca que é papel do Estado garantir o atendimento dos alunos em situação de vulnerabilidade e fomentar a permanência escolar, visto que a perda desses estudantes pode acarretar em prejuízos financeiros para a instituição educacional.

Ela afirma que a ocorrência de evasão em escolas privadas não é excluída quando alunos são reprovados com frequência.

"Quando um estudante reprisa muitas vezes, os responsáveis optam pela mudança de instituição educacional ou pela matrícula no estabelecimento público de ensino", declara.

Como Funciona Em Outros Lugares Do Mundo

A Unesco não possui um registro de quais nações empregam o modelo de repetição de ano em sua totalidade, visto que há uma variação significativa de uso, como no Brasil, em que a prática adotada é híbrida, ocorrendo em algumas localidades e em outras não.

Há pesquisas que analisam vivências internacionais com a promoção constante e métodos similares.

De acordo com a Unesco, países com baixa renda costumam aplicar mais frequentemente a prática da repetição de ano escolar.

Segundo Gontijo, foi em meados da década de 1980 que vários países europeus deram início à prática de abolir a reprovação no âmbito da educação pública.

"Aconteceu exatamente durante um período em que notaram um aumento de estudantes imigrantes ingressando no sistema", afirma.

As crianças enfrentavam obstáculos no idioma, na adaptação e viviam em condições socioeconômicas precárias. Elas reconheceram que serem reprovadas não contribuiria para a melhoria do aprendizado, apenas as afastaria cada vez mais das instituições escolares.

A partir de 1989, na França, foi determinado que a possibilidade de retenção de estudantes seria permitida somente após a conclusão de ciclos.

Segundo uma pesquisa realizada pela pedagoga Flávia de Carvalho Spada e publicada em 2007, a reprovação seria a última opção a ser considerada, e seria entendida como uma extensão do ciclo, em vez de uma reprovação per se.

De acordo com suas palavras, certas escolas norte-americanas que não reprovam seus estudantes, optam por retirar os alunos que apresentam atraso em determinadas disciplinas da turma principal e os levam para aulas particulares, com foco em resolver suas dificuldades. Alternativamente, agrupam os alunos da mesma turma de acordo com seu nível de aprendizagem e se empenham para preencher as lacunas existentes.

Spada afirma que é vantajoso para ela conviver com indivíduos da mesma faixa etária e não ser rotulada como alguém que precisa repetir de ano.

"Ela precisa dedicar momentos para corrigir as deficiências de aprendizagem."

Na educação pública, diversos países como a Finlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca e Japão aboliram ou diminuíram o emprego da repetição em suas práticas educacionais.

Nos países em desenvolvimento, o Chile se destaca por implementar políticas de suporte aos alunos com desafios, as quais têm substituído o modelo pedagógico de repetição, obtendo êxito segundo Rebeca Otero, representante da Unesco.

Desde a adoção do ensino progressivo no ensino fundamental em 2006, Camarões obteve uma redução de cinquenta por cento na taxa de desistência escolar.

Contudo, um estudo da Unesco sobre as áreas de fala inglesa no país revelou que, mesmo com a aplicação da progressão, muitas vezes as políticas de suporte e reforço não foram postas em prática.

Consequentemente, a maioria dos docentes que participaram do levantamento nessas áreas é contrária à adoção da progressão continuada.

Segundo Otero, a proibição da repetência em qualquer série, estabelecida por uma lei em 2009 na Índia, foi anulada devido a preocupações com o rendimento escolar dos estudantes.

O governo agora permite a reprovação no término dos ciclos do ensino fundamental e médio, entretanto, ainda enfrenta desafios como deficiência na infraestrutura e carência de educadores.

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