"O Juventus não está à venda": aos 100 anos, clube busca solução para pagar contas e manter futebol raiz

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Juventus

Em meio a um agitado campo de futebol, uma quadra repleta de jovens tentando organizar dois times para um jogo de basquete e outros espaços frequentados por pessoas quase invisíveis, o Clube Atlético Juventus retoma sua história gloriosa com o intuito de escrever um futuro de sucesso.

Cheia de tradição, a Juventus da Mooca estará fazendo um século de existência.

Embora o clube social seja gigantesco, ele não consegue atrair muitas pessoas interessadas. Por outro lado, a Rua Javari se tornou um fenômeno adorado por aqueles que buscam um pouco do verdadeiro futebol dentro da maior cidade da América Latina. Normalmente, torcedores, turistas e apaixonados pelo esporte enchem o estádio durante os jogos matinais de domingo, que são populares entre os fãs do futebol raiz no bairro da Mooca.

O time, que faz cem anos neste sábado, 20 de abril, está enfrentando dificuldades para se manter vivo em um dos lugares mais antigos da cidade de São Paulo e tem chamado a atenção do agressivo mercado imobiliário. Apesar dos obstáculos, quase subiu para a Série A1 do Campeonato Paulista, mas foi eliminado pelo Velo Clube nas semifinais algumas semanas atrás.

Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, o líder supremo do Juventus, ostentava uma permissão oficial da SAF, segurando-a com firmeza em suas mãos - Imagem capturada por Emilio Botta.

Papel é A Chave Para A Salvação

Ao contrário de seus concorrentes de grande porte, o time de futebol do Juventus, que joga na Série A2 do Campeonato Paulista, não conta mais com o apoio do clube social como fonte de sustento. Ele não possui calendário no âmbito nacional e se orgulha de ter a Rua Javari como um dos poucos símbolos do futebol antigo que ainda resta.

Entre os diversos papéis na mesa do presidente, encontra-se um item destacado em amarelo, que pode ser a chave para a sobrevivência do clube: a autorização para a criação de uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

A situação não é simples. Vou encarar um grande desafio diariamente. Retiramos a renda da área social para destinar ao futebol atualmente. Futebol é um esporte caro, mas estamos nos esforçando para levar o time para A1 e assim melhorar nossa situação. Entretanto, temos problemas internos, como por exemplo, o número de membros ainda não está satisfatório, embora esteja melhorando. Infelizmente, atualmente as pessoas não têm interesse em frequentar clubes, pois a maioria mora em condomínios que têm opções de lazer, além de possuírem casas de praia. Esse é um problema cultural que tem influenciado na queda de movimento nos clubes. Contudo, dentro dos quatro principais clubes de São Paulo - São Paulo, Santos, Corinthians e Palmeiras -, o nosso clube consegue sobreviver bem. Estamos lutando nessa batalha.

O futebol é a questão central. Por isso, buscaremos uma SAF com o fim de ampliar as iniciativas sociais. Assim, não mais destinaremos a maior parte da receita financeira e social ao futebol. Aliás, é desta forma que o Juventus tem se mantido, alugando suas instalações. Essa é a visão compartilhada por Dilson Tadeu Deradeli, presidente atual do clube da Mooca.

A sede principal do Clube Atlético Juventus, situada na região da Mooca em São Paulo, foi captada em imagem por Emilio Botta.

A atualidade do instituto criado em 1924 difere significativamente do momento em que contava com uma quantidade superior a 100 mil membros, reconhecido pelo Guinness Book, durante os anos 80.

Não é viável sustentar o clube com custos de associação de apenas 1.200 membros. Isso não é suficiente para cobrir as despesas com a equipe. É necessário buscar outras fontes de renda, como patrocínios, parcerias e aluguéis. Nosso salão de eventos é nossa principal fonte de receita atualmente. Apesar de estar prestes a completar 100 anos de história, o Juventus está caminhando de forma positiva. Não podemos simplesmente fechar as portas, já superamos situações mais adversas antes, não é mesmo? - Pondera o líder diretivo.

A sauna localizada no Clube Atlético Juventus é bastante popular entre seus membros - Imagem: Emilio Botta

"Novidades Do Juventus FC"

A imagem capturada por Guilherme Veiga da Agência Paulistão retrata o banco de reservas presente no estádio do Juventus-SP, localizado na Rua Javari.

Um grande obstáculo enfrentado pelo Juventus é a falta de integração entre seu clube social e departamento de futebol profissional. Enquanto os principais clubes paulistas têm seus times de futebol como a principal fonte de receita, em Mooca é a sede social que sustenta o futebol, garantindo sua participação no Campeonato Paulista.

Essa quantia é proveniente, em grande parte, das atividades realizadas no clube social, como o aluguel de áreas para celebrações e apresentações.

As circunstâncias alteraram significativamente, o que tornou a situação desafiadora. Por esse motivo, atualmente estamos redirecionando recursos do bem-estar social para o contexto do futebol. Certamente, não temos intenção alguma de abandonar essa prática esportiva. Procuramos manter uma parcela de nosso investimento original, mantendo-nos orgulhosamente atentos aos valores simbolizados por esse esporte maravilhoso.

O conselho aprovou a formação de uma SAF para o clube, e foi elaborada uma constituição para essa finalidade. Atualmente, estamos aguardando a chegada de investidores, alguns dos quais já apresentaram seus projetos para investir no futebol. É importante ressaltar que esse processo não envolve os bens patrimoniais do clube, diz respeito apenas ao futebol. Acredito que até metade do ano teremos uma solução para essa questão.

A sede principal do Clube Atlético Juventus, situada na região da Mooca em São Paulo, foi captada em imagem por Emilio Botta.

Nas Tendências De 2021

Localizada em um espaço total de 80 mil m², a base administrativa do Juventus fica cercada por construções e, gradualmente, por empreendimentos imobiliários. Empresas de grande porte pesquisam a situação do clube e desejam a propriedade, mesmo que ainda não esteja disponível para venda.

Embora o montante absoluto pertencente ao clube não seja revelado publicamente, o último relatório anual apresentado em 2022 indica que o Juventus possui um patrimônio líquido de aproximadamente R$ 138 milhões.

O líder do Juventus divulga propostas para adquirir o clube: "Não queremos ser comprados".

Antes da nossa conversa, era três horas, eu tive uma reunião aqui. Pessoas de Santos, investidores em corporações de imobiliária, vieram me encontrar. O Juventus não está sendo vendido e nós também não estamos sendo vendidos - pelo menos não por enquanto. Infelizmente, eles fizeram uma oferta fora da nossa área de segurança financeira e eu achei que fosse algo diferente. Eles queriam ver nossos planos, mas eu recusei.

Não há disponibilidade de espaço para esta proposta atualmente. Caso haja algum edifício ou estrutura a ser demolida dentro de uma área esportiva, poderíamos considerar uma parceria para construir uma torre de oito ou dez andares com quadras e piscinas incluídas, para torná-la atraente dentro do contexto esportivo. No entanto, investimentos em negócios imobiliários não serão contemplados durante minha gestão.

A base física do Clube Atlético Juventus cobre uma extensão de 80.000 metros quadrados, de acordo com a imagem capturada por Alê Vianna.

A Essência Do Futebol Em Casa

Diferentemente da matriz, o Conde Rodolfo Crespi Stadium, popularmente chamado de Rua Javari, foi preservado em 2019 pela Secretaria Municipal de Cultura por ser um bem que acrescenta à identidade dos arredores urbanos, além de possuir um valor sentimental que é reconhecido pela comunidade.

Dessa maneira, é necessário que as particularidades arquitetônicas do estádio, que foi aberto ao público em 1929, sejam conservadas a fim de evitar qualquer tentativa de demolição ou renovação que possa modificar o design original do local. O estádio encontra-se na área total de 15 mil metros quadrados, situada no bairro da Mooca e encontra-se a uma distância pouco superior a dois quilômetros da sede social.

A foto mostra a sede do Clube Atlético Juventus, da região da Mooca, em São Paulo.

Sendo assim, a equipe do Juventus está considerando transformar seu estádio em uma atração turística por meio da realização de visitas guiadas, visando impulsionar o turismo na região do bairro.

É possível melhorar o local, aumentando até mesmo a quantidade de espectadores. Há a possibilidade de construir mais arquibancadas, sem interferir nos limites de preservação do estádio, além de investir na qualidade do gramado e instalar iluminação. Temos a visão de transformá-lo em uma arena de shows, com diferentes possibilidades. Esses são alguns dos planos que temos em mente para o futuro.

Uma organização está se aproximando para colaborar conosco na criação de um local turístico, permitindo visitas, com base em um memorial. É essa ideia que estamos planejando atualmente e esperamos colocá-la em prática durante nosso centenário. Ainda não sabemos como isso vai se concretizar, mas a intenção é contar um pouco da história do Juventus, certo? – explicou o líder da agremiação.

No ano presente, Cristina Strutz capturou uma imagem da Rua Javari, campo de futebol do time Juventus durante uma partida da Série A2 do campeonato Paulista.

Embora seja altamente simbólico para os habitantes da Mooca e para os adeptos do Juventus, a manutenção da Rua Javari não é justificada pela bilheteria dos jogos do estádio. O clube realizará no máximo vinte partidas no local durante o ano, incluindo as do Campeonato Paulista e da Copa Paulista.

O líder do Juventus expõe projetos para a Rua Javari: "Ela se tornará um ponto turístico".

É incrível e enriquecedor em termos culturais, porém não há viabilidade financeira. Não é possível pagar as despesas devidas, pois a área em questão está preservada e não se pode interferir em seu estado atual. Já houve planos para demolir e construir uma arena, mas a iniciativa não prosperou porque a pessoa não estava ciente da preservação histórica do espaço.

Não temos capacidade para alterar, porém, é interessante por ser um objeto de 1924, composto por pequenas tábuas e cercas. No entanto, em termos financeiros, isso não beneficia o Juventus em nada. É simbólico para São Paulo, uma atração turística - detalha o gestor.

A imagem retrata o estádio do Juventus-SP, localizado na Rua Javari, sendo capturada pelo fotógrafo Fábio Pinel em meio à uma partida de futebol do Atlético-MG.

No ano de 2024, o Juventus jogou nove partidas em seu próprio estádio, a Rua Javari, recebendo em média 2.201 espectadores pagantes. O clube teve uma receita líquida de R$ 376.628,40 em todas as partidas disputadas como mandante. Esses números foram grandemente influenciados pela boa campanha da equipe na Série A2, onde chegaram até a semifinal e estiveram muito perto de subirem para a elite estadual em 2025.

Pedras Preciosas: Enigma Resolvido?

O Juventus tem um mistério em sua história há muitas décadas, e este mistério pode ser a chave para a salvação do clube. Três sacos repletos de pedras preciosas, doados por um antigo associado, estão guardados em um local secreto e ninguém nunca os retirou do cofre.

O líder do Juventus esclarece o "enigma das esmeraldas" armazenadas no cofre da agremiação.

O Juventus detém esmeraldas e beryl, que foram utilizadas como respaldo de pagamento na construção da sua sede social. O atual líder do clube exibe um certo desconforto quando confrontado sobre o fato de ninguém jamais ter efetuado uma avaliação das gemas e se aproveitado do dinheiro obtido pela venda delas para transformar o cenário atual do Juventus.

– Temos lá algo que está conosco desde não sei mais quando, umas gemas preciosas, mas nunca as manipulei. Alguém já pediu para avaliá-las. Eu os informei que, antes me acompanhar e assinar um documento, levassem para serem avaliadas, pois não mexerei nas ditas. Nunca me disseram mais nada. Elas estão guardadas, mas não saberia explicar-te.

Não sei se é uma verdade confiável, mas dizem que há três sacos de pedras guardados no cofre do clube. Supostamente são pedras verdes e isso vem sendo mantido em segredo há muitos anos. Não tenho interesse em mexer nisso e os que já passaram por aqui também não se atreveram. O assunto segue como um segredo do clube por ser algo que vem sendo mantido há anos, conforme explicou o presidente.

O líder do Juventus, Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, foi capturado pelas lentes do fotógrafo Rodrigo Corsi da Agência Paulistão.

No relatório financeiro mais recente divulgado pelo Juventus, datado do ano de 2022, consta que as pedras têm um valor estimado em R$ 138 mil. Contudo, é válido destacar que essa quantia pode ser apenas simbólica, visto que as mesmas nunca foram retiradas da instituição para serem submetidas à perícia de um perito especializado.

– Meu amigo, desconheço a origem dessas rochas. Não tenho a menor noção a respeito disso. Em algum momento, lembro que as mesmas foram utilizadas como garantia durante a edificação desta obra. Quem forneceu o financiamento desembolsou o valor acordado e recuperou a propriedade, entretanto, há indícios de que houve uma troca de pedras no meio do processo. Não há uma confirmação oficial a respeito desse fato.

- Eu tenho certeza de que está lá. Quando assumi o cargo, assinei um documento que comprovava que tudo foi recebido corretamente e vi pessoalmente que estava guardado. O Juventus tem esse mistério de algo que está guardado há um tempo e talvez um dia alguém com conhecimento e confiança possa descobrir o que há lá. É como um mistério de tesouro escondido - disse Tadeu, com um tom de brincadeira.

A área destinada à torcida organizada do Juventus na Rua Javari foi registrada em foto por Guilherme Veiga, da Agência Paulistão.

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