Kitty O'Neil: a dura história de vida da mulher 'mais rápida do mundo'

24 Mar 2023
Kitty O'Neil

Nesta sexta-feira (24), o Doodle do Google homenageia a falecida corredora e dublê norte-americana Kitty O'Neil. Ela foi considerada a mulher mais rápida do mundo na década de 1970 após cruzar o deserto de Alvord, em Oregon, nos Estados Unidos, em um carro-foguete a mais de 825 km/h.

Além de recordista, O'Neil já foi a “Mulher Maravilha”, atuando como dublê em cenas perigosas para a atriz Lynda Carter, que protagonizava a série da super-heroína transmissão entre 1976 a 1979. Surda de nascença, a stunt woman celebraria hoje seu 77º aniversário se ainda estivesse viva.

Perda da audição

O'Neil nasceu neste exato dia 24 de março, no ano de 1946, em Corpus Christi, cidade no estado norte-americano do Texas. Ela era filha de pai irlandês e mãe nativa-americana do grupo étnico cherokee.

Quando tinha só alguns meses de vida, Kitty teve uma febre alta causada por sarampo, caxumba e varíola que destruiu nervos e a levou à surdez, conforme relata o site New York Times. A mãe dela, Patsy Compton O'Neil, abriu uma escola para deficientes auditivos depois de ensinar a filha a ler os lábios das pessoas em vez de usar a linguagem de sinais.

Desde muito cedo, a garota amava velocidade. Aos 4 anos, exigiu que seu pai a colocasse em cima de seu cortador de grama e a conduzisse o mais rápido possível.

Mas a criança não teve a presença paterna por muito tempo: o pai dela, John O'Neil, um perfurador de petróleo, morreu em um acidente de avião quando ela era criança, o que fez com que a filha acabasse sendo criada mais pela mãe, de acordo com o site britânico The Guardian.

Doodle homenageia Kitty O'Neil — Foto: Google

Grave acidente e doenças

Mais tarde, Kitty O'Neil se destacou na natação e no mergulho e coletou várias medalhas antes de se mudar para Anaheim, na Califórnia, para treinar com o notável técnico Sammy Lee para uma possível vaga na equipe olímpica de mergulho dos Estados Unidos, em 1964.

Lee disse, de acordo com o The Guardian, que a jovem arrebatava troféus “como peixes famintos”. Porém, naquele ano, ela contraiu uma meningite espinhal após quebrar o pulso, o que deu fim a suas chances de competir.

Aos 20 anos de idade, a garota passou por dois tratamentos contra um câncer. Superou as doenças e críticas de que ela “era muito fraca para a carreira no atletismo”. Competiu então em eventos de motos e carros, incluindo a cultuada corrida off-road Mint 400.

O'Neil também começou a praticar esqui aquático, paraquedismo e asa delta, afirmando, em 1979, ao The Chicago Tribune, que o mergulho “não foi assustador o suficiente para ela” .

Em 1976, a jovem foi coroada “a mulher viva mais rápida do mundo”. Ela dirigiu um carro-foguete chamado Motivator e ultrapassou o recorde anterior de velocidade em terra para mulheres em quase 320 km/h.

Ficou evidente que ela poderia quebrar a marca masculina também. Infelizmente, seus patrocinadores não permitiram que ela ultrapassasse o recorde geral, por razões sexistas. Uma ação legal para lutar contra isso falhou. No entanto, isso não impediu O'Neil de quebrar recordes pilotando barcos a jato e veículos dragsters.

Dedos decepados e carreira perigosa

Após uma corrida de motos, Kitty O'Neil tirou suas luvas e percebeu que dois de seus dedos estavam decepados. Um companheiro do esporte, Duffy Hambleton, veio em seu auxílio e insistiu em levá-la ao hospital.

Existem rumores de que mais tarde O'Neil teria casado com Hambleton, mas o casamento teria durado pouco. Em 1988, ela mostrou a um repórter seus álbuns de recortes e uma foto do suposto “marido” o apresentava com o rosto riscado. Ao lado de um recorte sobre como ele “influenciou seu trabalho”, a mulher havia escrito: “não é verdade”.

Por meio de Hambleton, porém Kitty possivelmente conheceu Hal Needham, um dublê consagrado a quem ela sempre creditou por treiná-la. A surdez, conforme ela costumava dizer, a ajudava a aprofundar sua concentração, quer estivesse correndo com um veículo dragster ou pulando de prédios.

De acordo com o Google, a dublê era “uma verdadeira amante de ação”. No final dos anos 70, ela chegou às telonas em filmes e séries de TV, incluindo “A Mulher Biônica” (1976), “Mulher Maravilha” (1977-1979) e “Os Irmãos Cara-de-Pau”(1980).

Kitty também foi a primeira mulher a ingressar na Stunts Unlimited, uma organização para os melhores dublês de Hollywood. Em 1979, durante uma pausa no trabalho em “Os Irmãos Cara-de-Pau”, ela visitou a Escola Holy Trinity para surdos e disse aos alunos que não deveriam considerar a surdez como um impedimento para o sucesso.

“Os surdos podem fazer qualquer coisa”, disse ela ao The Tribune. "Nunca desista. Quando eu tinha 18 anos, disseram-me que não conseguiria um emprego porque era surda. Mas eu disse que um dia seria famosa no esporte, para mostrar a eles que posso fazer qualquer coisa.”

Kitty O'Neil se aposentou no início dos anos 1980, após uma longa carreira de sucesso. Ela morreu em 2 de novembro de 2018, de pneumonia, em Eureka, na Dakota do Sul, aos 72 anos.

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