O alemão “Nada de Novo no Front” e o sueco “Triângulo da Tristeza ...

25 Jan 2023

Por Maria do Rosário Caetano

Três produções estrangeiras estão entre os dez finalistas ao Oscar de melhor filme, a principal categoria da cobiçada estatueta atribuída anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood – o alemão “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger, o irlandês “Os Banshees de Ishinerein”, de Martin McDonagh, e “Triângulo da Tristeza” (foto acima), do sueco Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes, ano passado.

Completam a lista o recordista de indicações “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert (11, no total), “Elvis”, de Baz Luhrmann (com oito), “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg , (com sete), “Tár”, de Todd Field (com seis), os blockbusters “Top Gun: Maverick”, de Joseph Kosinski (também com seis) e “Avatar: O Caminho da Água”, de James Cameron (com quatro). “Entre Mulheres” (duas indicações) destaca-se como o único título da lista principal dirigido por uma mulher (a canadense Sarah Polley). Baseado em livro de Miriam Toews, o filme mostra um grupo de mulheres, imerso numa colônia religiosa, atormentado por abuso dos homens locais.

A festa do Oscar de número 95 acontecerá no dia 12 de março e terá, pela terceira vez, o comediante Jimmy Kimmel como mestre de cerimônia. Ele retorna ao posto e decerto disposto a não repetir a experiência tumultuada do afro-americano Chris Rock, que levou safanões do ator, também afro-americano, Will Smith. Kimmel apresentou a cerimônia do Oscar em 2017 e 2018.

A lista de melhores diretores desta temporada sem grandes favoritos inclui Ruben Östlund e mostra que, com associados vindos de outras partes do mundo, o Oscar vai tomando, lentamente, características mais cosmopolitas. Além do vencedor da Palma de Ouro, disputam a estatueta dourada o londrino Martin McDonagh (“Banshees”), os estadunidenses Spielberg (“Os Fabelmans”), Todd Field (“Tár”) e a dupla de Danieis, do sucesso “asiático, made in USA”, mistura ficção científica e maluquices, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Um filme insuportável, que – pasmem – virou o recordistas de indicações do ano.

Ou a Academia está querendo seduzir a parcela pop da audiência e da crítica cinematográfica ou os parâmetros de excelência estético-artística mudaram indelével e profundamente. Por sorte, outra produção pop que figurou na lista dos Produtores (100% anglo-saxã e anti-Netflix) sumiu das categorias de maior prestígio: o britânico “Glass Onion: o Mistério Knives Out”, de Rian Johnson.

O Brasil perdeu sua vez na única categoria em que disputava vaga – melhor curta de ficção, já que o potiguar “Sideral”, de Carlos Segundo, não conseguiu figurar na lista de cinco finalistas. Em outra categoria — melhor longa documental— nosso país entrava como tema, cenário e coprodutor, mas também sem bom resultado. O longa “Território”, de Alex Pritz, filmado com povos indígenas da Amazônia, foi ignorado.

A escolha de “All the Beauty and Bloodshed” (Toda a Beleza e o Sangue Derramado”), de Laura Poitras, longa norte-americano laureado com o Leão de Ouro em Veneza, mostra a força de dois dos três grandes festivais europeus (o francês, que viu seu vencedor indicado em três categorias – melhor filme, direção e roteiro original) e o italiano.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Completam a lista de longas documentais o badaladíssimo e emocionante “Vulcões: A Tragédia de Kátia e Maurice Kraft”, de Sara Doisa, do Canadá, “All That Breathes” (“Tudo que Respira”), de Shaunak Sen, da Índia, “A House Made of Splinters”, de Simon Lereng Wilmont e Monica Hellström, sobre orfanato infanto-juvenil na Ucrânia (produção da Dinamarca), e “Navalny”, de Daniel Roher, sobre ativista russo que faz oposição a Vladimir Putin, acusando-o de ter mandado envenená-lo (produção dos EUA).

O desempenho de “Nada de Novo no Front” é formidável. No Bafta, o Oscar britânico, ele recebeu 14 indicações. No Oscar, nove (e em categorias de significativa importância como melhor filme, roteiro adaptado e fotografia). Indicações merecidas, embora o filme seja uma refilmagem do romance de Erich Maria Remarque, que resultou no grande vencedor do Oscar em 1930 (melhor filme, diretor, ator e fotografia). Houve outra adaptação nos anos 1970.

O filme de Edward Berger é falado em alemão e francês, pois mostra os brutais combates travados, durante a Primeira Guerra Mundial, entre soldados germânicos e franceses. Tudo é filmado com elenco notável (comandado pelo jovem Felix Kammerer) e com tal realismo que nos faz evocar o soviético “Vá e Veja” (Elem Klimov, 1982), um dos maiores épicos de guerra da história do cinema. Claro que a produção germânica não tem as ousadias formais do filme de Klimov, objeto de paixão e estudo até de Steven Spielberg (que nele se inspirou para “O Resgate do Soldado Ryan”). Mesmo assim, a nova versão de “Nada de Novo no Front” constitui programa obrigatório (disponível na Netflix).

Alguns filmes que iniciaram a corrida ao Oscar com destaque – caso de “Bardo”, do mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu, “RRR – Revolta, Rebelião, Revolução”, do indiano S.S. Rajamouli, e “Babilônia”, de Damien Chazelle, acabaram com indicações secundárias. Para “Pinóquio de Del Toro”, esperava-se mais que a solitária indicação a melhor longa de animação (mesmo que seja o franco favorito na categoria). Decepcionante foi o esquecimento do belo drama policial coreano – “Decisão de Partir”, de Park Chan-wok – um noir banhado em romantismo. No Bafta, Chan-wook concorre até a melhor diretor.

Os finalistas a melhor filme internacional concentraram-se de forma espantosa na Europa, com o germânico “Nada de Novo no Front”, o irlandês “A Menina Silenciosa”, de Colm Bairéad, o polonês “Eo”, de Jerzy Skolimovsky, e o belga “Close”, de Lukas Dhont.

Ásia e África foram ignorados, mas a América Latina tem representante forte: “Argentina 1985”, “Darin movie” dirigido por Santiago Mitre. Não são poucas as chances do acerto de contas de nossos vizinhos com os comandantes militares golpistas da ditadura platina (que durou sete anos, enquanto a nossa passou dos 20). Mas as nove indicações de “Nada de Novo no Front” mostram que o filme germânico tem eleitorado forte.

Confira os finalistas:

Melhor filme

. “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger (Alemanha)
. “Os Banshees de Inisherin”, de Martin McDonagh (Grã-Bretanha)
. “Triângulo da Tristeza”, de Ruben Östlund (Suécia)
. “Entre Mulheres”, de Sarah Polley (Canadá-EUA)
. “Elvis”, de Baz Lurhmann (EUA)
. “Tár”, de Todd Field (EUA).
. “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg (EUA)
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert (EUA)
. “Avatar: O Caminho da Água”, de James Cameron (EUA)
. “Top Gun: Maverick”, de Joseph Kosinski (EUA)

Melhor documentário

. “Vulcões: A Tragédia de Kátia e Maurice Kraft”, de Sara Doisa (Canadá)
. “All the Beauty and Bloodshed” (Toda a Beleza e o Sangue Derramado”), de Laura Poitras (EUA)
. “A House Made of Splinters”, de Simon Lereng Wilmont e Monica Hellström (Dinamarca-Ucrânia )
. “All That Breathes” (“Tudo Que Respira”), de Shaunak Sen (Índia/EUA)
. “Navalny”, de Daniel Roher (EUA)

Melhor filme estrangeiro

. “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger (Alemanha)
. “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre (Argentina)
. “A Menina Silenciosa”, de Colm Bairéad (Irlanda)
. “Eo”, de Jerzy Skolimovsky (Polônia)
. “Close”, de Lukas Dhont (Bélgica)

Melhor longa de animação

. “Pinoquio de Del Toro”, de Guillermo del Toro e Mark Gustafson (EUA-México)
. “Marcel the Shell With Shoes On”, de Dean Fleischer Camp (EUA)
. “Red: Crescer é uma Fera”, de Domee Shi (EUA)
. “A Fera do Mar” (“The Sea Best”), de Chris Williams (Canadá-EUA)
. “Gato de Botas 2: O Último Pedido”, de Joel Crawford (EUA)

Melhor diretor

. Rubens Ösmund (“Triângulo da Tristeza”, Suécia)
. Martin McDonagh (“Os Banshees de Inisherin”)
. Steven Spielberg (“Os Fabelmans”)
. Todd Field (“Tár”)
. Daniel Kwan e Daniel Scheinert (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)

Melhor atriz

. Cate Blanchett (“Tár”)
. Andrea Riseborough (“To Leslie”)
. Ana de Armas (Blonde”)
. Michelle Williams (“Os Fabelmans”)
. Michelle Yeoh (“Tudo em todo Lugar ao Mesmo Tempo)

Melhor ator

. Bill Night (“Living”)
. Austin Butler (“Elvis”)
. Colin Farrell (“Os Banshees de Inisherim”)
. Paul Mescal (“Aftersun”)
. Brendan Fraser (“A Baleia”)

Melhor atriz coadjuvante

. Angela Bassett (“Pantera Negra: Wakanda para Sempre”)
. Kerry Condon (“Os Banshees de Inisherin”)
. Hong Chau (“A Baleia”)
. Stephanie Hsu (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)
. Jamie Le Curtis (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)

Melhor ator coadjuvante

. Brendam Gleeson (“Os Banshees de Inisherin”)
. Barry Keoghan (“Os Banshees de Inisherin”)
. Brian Tyree Henry (“Causeway”)
. Judd Hirsch (“Os Fabelmans”)
. Ke Huy Quan (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)

Melhor roteiro original

. “Triângulo da Tristeza” (Ruben Östlund)
. “Tár” (Todd Field)
. “Os Banshees de Inisherin” (Martin McDonagh)
. “Os Fabelmans” (Spielberg e Tony Kushner)
. “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” ( Daniel Kwan e Daniel Scheinert)

Melhor roteiro adaptado

. Kazuo Ishiguro (“Living” – Viver)
. Ian Stokell, Lesley Paterson e Edward Berger (“Nada de Novo no Front”)
. Sarah Polley (“Entre Mulheres”, Canadá)
. Rian Johnson (“Glass Onion: Um Mistério Knives Out”)
. Ehren Kruger, Eric Warren Singer, Christopher McQuirrie (“Top Gun: Maverick”)

Melhor Fotografia

. Darius Khondji (“Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, de Alejandro Iñarritu, México)
. James Friend (“Nada de Novo no Front”, Alemanha)
. Roger Deakins (“Empire of Light” – Império da Luz”, de Sam Mendes, Inglaterra)
. Mandy Walker (“Elvis”, EUA)
. Florian Hoffmeister (“Tár”, EUA)

Melhor Trilha Sonora

. “Nada de Novo no Front”
. “Os Banshees de Inisherin”
. “Os Fabelmans”
. “Babilônia”
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”

Melhor Montagem

. Mikkel Nielsen (“Os Banshees de Inisherin” – Irlanda/Inglaterra)
. Matt Villa e Jonathan Redmond (“Elvis” – EUA)
. Paul Rogers (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” – EUA)
. Monika Willi (“Tár” – EUA)
. Chris Lebenzon (“Top Gun: Maverick” – EUA)

Melhor Canção

. “Naatu Naatu”, por RRR – Revolta, Rebeldia, Revolução (Índia)
. “Aplause (“Thell it Like a Woman”)
. “Lift me Up” (“Pantera Negra: Wakanda para Sempre”)
. This is a Life” (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)
. “Hold my Hand” (Top Gun: Maverick”)

Melhor Figurino

. “Babilônia”
. “Sra. Harris Vai a Paris”
. “Elvis”
. “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”

Melhor som

. “Nada de Novo no Front”
. “Elvis”
. “Avatar: o Caminho das Águas”
. “Batman”
. “Top Gun: Maverick”

Cabelo e Maquiagem

. “Nada de Novo no Front”
. “A Baleia”
. “Elvis”
. “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”
. “Batman”

Melhor Design de Produção

. “Nada de Novo no Front”
. “Babilônia”
. “Elvis”
. “Os Fabelmans”
. “Avatar: o Caminho das Águas”

Melhores efeitos visuais

. “Nada de Novo no Front”
. “Avatar: o Caminho das Águas”
. “Batman”
. “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”
. “Top Gun: Maverick”

Melhor curta de ficção

. “Le Pupille”
. “An Irish Goodbye”
. “The Red Suitcase”
. “Ivalu”
. “Night Ride”

Melhor curta de animação

. “My Year of Dicks”
. “The Flying Sailor”
. “Ice Merchants”
. “An Ostrich Told me the World is Fake, and I Think I Believe it”
. “The Boy, the Mole, the Fox, and the Horse”

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