Xerifão da França tinha vergonha de falar por ser gago - ESPN

8 Set 2023
Franca

Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini

7 de set, 2023, 06:00

Nesta quinta-feira (7), a França recebe a Irlanda, às 15h45 (de Brasília), no Parque dos Príncipes, em partida válida pela 5ª rodada das eliminatórias da Eurocopa-2024. O jogão terá transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.

Um dos trunfos dos Bleus para chegar ao 5º duelo seguido sem levar gol é o zagueiro Dayot Upamecano, do Bayern de Munique, que deve ser titular no confronto desta quinta.

Vivendo grande momento no gigante da Bundesliga e um dos destaques da França na última Copa do Mundo, Upamecano tem uma história de vida que poderia virar filme.

Nascido na França, mas filho de imigrantes de Guiné-Bissau, seu nome na verdade é Dayotchanculle, em homenagem ao seu bisavô, que era um membro da realeza na África.

Como o atleta contou em entrevista à France Football, o primeiro Dayotchanculle era rei da ilha de Jeta, que fica na costa de Guiné-Bissau, próxima à capital Bissau.

Em território francês, Upamecano cresceu em um bairro de imigrantes africanos na cidade de Évreux. Na infância, ele sofreu muito durante a idade escolar, já que teve que lidar com dois problemas sérios.

O primeiro era a dislexia, perturbação da aprendizagem caracterizada pela dificuldade de leitura e/ou escrita. E a segunda era a disfemia, conhecida popularmente como gagueira.

"Quando ele tinha quatro anos, era difícil entender realmente o que ele queria dizer. As palavras não saíam. Era algo muito complicado, que o deixava muito triste", relembrou a mãe do atleta, Ghislaine, à revista francesa.

"Ele passou a ter muitas dificuldades na escola, mas nunca desistiu de nada, porque queria ser uma pessoa de sucesso em todos os campos", acrescentou.

Em conversa com o jornal Le Parisien, o zagueiro admitiu que, quando era criança, tinha até vergonha de falar com amigos e familiares por muitas vezes "travar" enquanto tentava pronunciar as palavras.

Isso foi solucionado com dois tipos de terapia: muitas sessões com fonoaudiólogos e também o fato dele ter começado a se destacar desde cedo no futebol.

De acordo com o defensor, o fato de ter que berrar o tempo todo com os companheiros de zaga e também com o goleiro fizeram com que ele superasse a vergonha causada pela disfemia.

"Quando eu estou em campo, me transformo em outra pessoa. Enquanto as pessoas riam de mim, eu trabalhava", destacou o francês, na conversa com o diário parisiense.

"Esse moleque vai ser bom!"

Após passar pelo pequeno Évreux, Upamecano fez sua formação na base do Valenciennes e rapidamente chamou a atenção de olheiros europeus por ser alto, forte e extremamente rápido.

Não à toa, ele foi levado ainda garoto pelo Red Bull Salzburg, da Áustria, para atuar inicialmente na categoria sub-19 do clube.

No entanto, seu futebol já era avançado demais para a idade, e rapidamente ele foi promovido para o time principal. Na sequência, foi emprestado ao pequeno Liefering, também da Áustria, para ganhar rodagem.

Quando retornou do empréstimo, o francês virou titular absoluto da zaga do Salzburg e precisou de poucos meses para ser "promovido".

Vendo que tinha uma joia nas mãos, o grupo Red Bull levou o defensor para seu principal clube, o RB Leipzig, da Alemanha, e daí em diante o zagueirão explodiu de vez.

Ao todo, ele atuou cinco temporadas na equipe da Bundesliga, tendo enorme destaque e virando presença constante na seleção francesa.

Em 2021, o gigante Bayern pagou 42,5 milhões de euros e comprou o defensor, que atualmente é titular absoluto no multicampeão alemão.

Quem conheceu Upamecano ainda jovem, aliás, diz que ele estava destinado à grandeza no futebol.

É o caso do zagueiro Paulo Miranda, ex-Grêmio, São Paulo e Palmeiras, que atuou ao lado do francês no Red Bull Salzburg, entre 2015 e 2016.

Em entrevista à ESPN, Paulo Miranda assegura que enxergou o talento de Dayot quando ele havia acabado de subir para o elenco profissional do clube austríaco.

"Ele era muito novo, mas já mostrava ser um garoto extremamente focado dentro e fora de campo. Quando cheguei lá, eu tentava dar algumas dicas a ele, porque era o 3º zagueiro, mas já demonstrava um potencial enorme", recordou.

"Quando a gente treinava, eu o observava e pensava: 'Grande, forte e rápido... Esse moleque vai ser bom!'. Quando começou a ter sequência, nunca mais saiu do time. Tanto é que foi para o Leipzig pouco tempo depois", ressaltou.

O ex-gremista também relembrou as "resenhas" que teve com o francês, que se comunicava com os brasileiros do Salzburg por meio de tradutor.

"Teve uma pré-temporada com um final de semana para a família. Era um momento de reunir todo o mundo para distrair e confraternizar. Eu sempre fiz amizade com a molecada, para eles se sentirem à vontade com os brasileiros, e o Dayot gostava muito de ficar com a gente. O tradutor dele falava português, então ele ficava sempre próximo. Tinha muita 'resenha' e brincadeira", relatou.

Como a passagem de Upamecano pelo Salzburg foi rápida, ele não jogou muito ao lado de Paulo Miranda. No entanto, o ex-são-paulino se recorda de um jogo em que ambos atuaram muito bem.

"Teve uma partida contra o Nice, pela Europa League, em que eu e o Upamecano formamos a dupla. O Balotelli era o centroavante deles. Um cara complicado de marcar, mas fomos muito bem. Não passou nada! Ainda ganhamos de 2 a 0 fora de casa", exaltou.

Outro brasileiro que se impressionou com o jovem Dayot é o goleiro Airton, atualmente na Chapecoense, que atuou por quase dois anos pela time de futebol austríaco da Red Bull.

Em conversa com a ESPN, o arqueiro destacou a calma do francês na defesa, além da velocidade de recuperação das jogadas.

"É um cara que tem uma calma espetacular, além de uma frieza fora do comum para driblar os atacantes. A recuperação dele sempre foi espetacular. Muitas vezes, ele deixava o atacante passar e conseguia ter uma recuperação absurda", relembrou.

"Ele sabe construir o jogo e tem muita imposição física. Era difícil para ele perder uma bola, até porque é rápido demais, tem uma velocidade incomum para zagueiros. Com ele em campo, a gente ganhava todas por cima e por baixo. Fora a qualidade técnica e visão de jogo que ele sempre demonstrou", finalizou.

Onde assistir a França x Irlanda, pelas eliminatórias da Euro?

França x Irlanda, nesta quinta-feira (7), às 15h45 (de Brasília), pelas eliminatórias da Eurocopa-2024, tem transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.

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