Ex-comandante do Exército ameaçou prender Bolsonaro, diz ex-FAB

Bolsonaro

Durante seu depoimento à Polícia Federal (PF), o tenente-brigadeiro do ar, Carlos Almeida Baptista Júnior, que já foi comandante da Aeronáutica, relatou que, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro tentasse efetivar um golpe de Estado, o general Marco Antonio Freire Gomes, que já comandou o Exército, o ameaçou de prisão.

O testemunho foi prestado no âmbito de uma investigação acerca de uma conspiração armada pela alta cúpula do governo Bolsonaro. Nesta sexta-feira (15), o relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes, suspendeu o sigilo das declarações.

Após o presidente Jair Bolsonaro levantar a possibilidade de ameaçar a democracia através de medidas constitucionais como a GLO, estado de defesa ou estado de sítio, o ex-líder do Exército, general Freire Gomes, afirmou que se tal ação fosse tentada, seria necessário prender o presidente da República", declarou o antigo comandante da Força Aérea Brasileira (FAB).

O antigo líder do Exército, General Marco Antonio Freire Gomes, foi registrado por Fabio Rodrigues-Pozzebom/Arquivo Agência Brasil.

De acordo com Baptista Jr, Freire Gomes aconselhou Bolsonaro a não recorrer a argumentos jurídicos duvidosos para realizar um golpe, tais como a imposição de estado de sítio, estado de defesa ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

De acordo com o relatório produzido pela Polícia Federal, Baptista Jr. expressou ao presidente Bolsonaro, em uma reunião, sua forte recusa em relação a qualquer tentativa de golpe e afirmou que não havia nenhuma chance do então presidente continuar exercendo suas funções.

Durante outra reunião entre líderes das Forças Armadas e o então chefe de estado, o depoente expressou com clareza a Jair Bolsonaro que não havia possibilidade alguma de ele continuar no poder após o término do seu mandato. Além disso, salientou ao presidente que não toleraria qualquer tentativa de violação das instituições para tentar manter-se no cargo. É o que consta no relatório da Polícia Federal referente ao depoimento.

Durante as últimas semanas, Carlos-Almeida Baptista Júnior compartilhou que esteve presente em cerca de cinco ou seis encontros com Bolsonaro e os demais líderes das Forças Armadas, logo após o término da eleição presidencial em 2022. O tenente-brigadeiro deixou claro que ressaltou ao presidente a inexistência de fraude nas urnas eletrônicas - teoria defendida pelos seguidores de Bolsonaro a fim de justificar sua permanência no cargo.

A Polícia Federal relatou que o antigo comandante afirmou que Bolsonaro recebia informações sobre as atividades do representante da Aeronáutica na Comissão de Fiscalização das Eleições, sendo informado que não haviam sido identificadas quaisquer irregularidades na votação tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Segundo Baptista Jr., apenas o almirante Almir Garnier, ex-chefe da Marinha, se prontificou a colocar as tropas à disposição do presidente Bolsonaro.

Questionado sobre quando recebeu um esboço para realizar um golpe, Baptista Jr. afirmou que o papel foi apresentado aos líderes das tropas militares durante um encontro no Ministério da Defesa, no dia 14 de dezembro de 2022, pelo então chefe da pasta, general Paulo Sérgio de Oliveira.

Segundo o depoimento do antigo líder da Força Aérea, Oliveira pôs o rascunho em cima de um móvel e comunicou que desejava expor o registro "para informe e análise".

Durante o depoimento à Polícia Federal, Baptista Jr esclareceu que compreendeu a existência de uma medida que impediria a entrada do novo governo eleito. Diante desse fato, o depoente afirmou para o Ministro da Defesa que não aceitaria receber tal documento em hipótese alguma. Além disso, o depoente afirmou que a Força Aérea não toleraria essa possibilidade de um Golpe de Estado.

De acordo com o testemunho do antigo líder da Força Aérea Brasileira, o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, "declarou que não concordaria com a ideia de avaliar o conteúdo do rascunho". Baptista Jr. afirmou que saiu da sala em seguida, entretanto, durante sua presença na reunião, o ex-líder da Marinha, Almir Garnier, não demonstrou discordância em relação ao conteúdo do rascunho.

Baptista Jr. informou aos responsáveis pela investigação que, ao comunicar ao então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que não apoiaria qualquer tentativa de mudança forçada no poder, este teria ficado "surpreso" com sua declaração.

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