Copom: entenda os recados do Banco Central sobre o futuro da Selic

3 Agosto 2023

No comunicado divulgado logo após a decisão, o colegiado indicou que a melhora do quadro inflacionário do país permitiu que o Banco Central do Brasil (BC) desse início a um ciclo “gradual” de redução de juros no Brasil.

Selic - Figure 1
Foto G1

A autarquia ainda sinalizou que novos cortes da mesma magnitude podem vir nas próximas reuniões, caso o cenário esperado – de continuidade do processo de desinflação e de ancoragem das expectativas em torno de suas metas – se concretize.

A decisão pela redução de juros já era amplamente esperada pelo mercado. No entanto, mais do que o tamanho do corte, a grande expectativa dos agentes financeiros estava em torno do tom adotado pela autoridade monetária para justificar a decisão e das sinalizações do colegiado sobre como deve ser e quanto deve durar o ciclo de queda.

Entenda, a partir dos tópicos abaixo, quais os recados do Banco Central sobre o futuro da Selic e quais os impactos da decisão na economia brasileira.

Copom corta taxa básica de juros brasileira em meio ponto percentual para 13,25% ao ano

Os recados do BC

De acordo com economistas consultados pelo g1, o comunicado divulgado após a decisão trouxe mensagens importantes a serem consideradas para a trajetória da taxa básica de juros. Entre elas:

Início do ciclo de corte de juros foi iniciado, mas mercado deve manter os ânimos contidos nas projeções para as próximas reuniões;Cenário inflacionário ainda apresenta riscos de alta e baixa dos preços adiante, e conjuntura demanda “serenidade e moderação” na condução da política monetária.

Início acelerado, mas de ânimos contidos

De acordo com economistas, apesar de o corte da taxa básica de juros pelo Copom ter sido um pouco acima do que o esperado por parte do mercado – que previa uma queda de 0,25 p.p. –, o colegiado se esforçou em conter os ânimos para as projeções das próximas reuniões.

Mais importante do que o corte de 0,50 p.p. é a comunicação que veio depois. [...] Como o BC começou um pouco mais forte, houve uma preocupação grande de 'ancorar' o mercado, para que não esperem novas acelerações nos cortes da Selic à frente.

— Danilo Passos, economista da WHG

Essa sinalização do BC foi de que, caso permaneça o mesmo cenário de desinflação e ancoragem das expectativas no país, os próximos cortes devem manter o mesmo ritmo.

“Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude [ou seja, de 0,50 p.p.] nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o comunicado.

O comunicado ainda diz que a magnitude total do ciclo de redução da Selic ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, “em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica”, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Segundo nota divulgada pelo colegiado, cinco diretores votaram a favor do corte de 0,50 p.p., enquanto quatro se manifestaram por uma redução de 0,25 p.p..

Votaram pela redução de 0,50 p.p.:

presidente Roberto Campos Neto (indicado por Jair Bolsonaro)Ailton de Aquino Santos (indicado por Lula)Carolina de Assis Barros (indicada por Temer)Gabriel Galípolo (indicado por Lula)Otávio Ribeiro Damaso (indicado por Dilma Rousseff)

Votaram pela redução de 0,25 p.p.:

Diogo Abry Guillen (indicado por Jair Bolsonaro)Fernanda Magalhães Rumenos Guardado (indicada por Jair Bolsonaro)Maurício Costa de Moura (indicado por Jair Bolsonaro)Renato Dias de Brito Gomes (indicado por Jair Bolsonaro)

“Isso também dá uma sinalização para evitar precificações de cortes mais agressivos nas próximas decisões”, afirma o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso.

“Outro ponto é que ele [o Copom] também indica que vai resistir em patamares mais contracionistas, ou seja, com uma Selic acima da neutra [que não estimula nem desestimula a economia], até que a desinflação se consolide em direção à meta e até que as expectativas de longo prazo retomem para a meta de 3%”, acrescenta o especialista.

Indicações sobre a economia e a inflação

Outros recados importantes dados pelo colegiado dizem respeito à atual conjuntura econômica nacional e internacional e ao balanço de riscos para o cenário inflacionário.

Segundo o comunicado, por exemplo, os indicadores recentes de atividade continuam a refletir um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres, com indicação de uma elevação da inflação acumulada em 12 meses ao longo do segundo semestre.

“As medidas mais recentes de inflação subjacente [também chamada de núcleo da inflação, a medida desconsidera os preços mais voláteis, como energia e alimentação] apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta”, diz o Copom.

Além disso, o comitê também reforçou que seus cenários de análise para a inflação ainda apresentam fatores de risco tanto para um aumento quanto para uma queda dos preços.

Entre os riscos de alta, o comunicado destacou:

uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já entre os fatores que podem levar a uma redução de preços, estão:

uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O que a decisão do BC significa para a economia brasileira?

Ainda de acordo com os economistas consultados pelo g1, apesar da expectativa de que a Bolsa de Valores e os mercados de câmbio e de juros reajam positivamente nesta quinta-feira (3), os efeitos práticos da redução da Selic na ponta consumidora ainda não devem ser visíveis.

“Como o mercado já tem precificado bastante corte de juros na curva futura, teoricamente a decisão de [cortar] 0,50 p.p. não muda muito as condições monetárias que temos hoje” diz Caruso, do PicPay.

Até passaremos a ver algum alívio nas condições monetárias e creditícias no sentido de juros menores, mas até isso se refletir em uma atividade mais pujante ou em um crédito mais expansionista, que leve [o país] a ter uma melhora na atividade, ainda leva um grande tempo.

— Marco Caruso, economista-chefe do PicPay

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